Rodas e Eixos (47ª Mostra Internacional de Cinema)
Inspirado em Madame Edwarda, de Georges Bataille, Rodas e Eixos integra a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Famoso por suas obras filosóficas sobre o erótico, como O erotismo e A História do Olho, o autor francês Georges Bataille é a inspiração para a produção japonesa Rodas e Eixos (Wheels and Axle), em exibição durante a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O longa-metragem escrito e dirigido por Jumpei Matsumoto é baseado no conto “Madame Edwarda”, no qual Bataille descreve a história de um homem que tem uma experiência quase transcendental com uma prostituta, uma mulher que se diz Deus.
No longa-metragem, trechos de “Madame Edwarda” são lidos em uma leitura dramática. Manami, uma mulher jovem vinda de uma família tradicional, está descobrindo novos horizontes a partir de uma nova amizade com Jun, um jovem gay que tem um relacionamento com um garoto de programa. O contato com o texto de Bataille é parte, portanto, de uma jornada de libertação da protagonista, que possui uma espécie de complexo de édipo com o pai autoritário e que começa a buscar a liberdade, e por que não a transcendência, através do sexo.
Rodas e Eixos coloca a sua protagonista nessa jornada na qual o sexo é visto como uma ferramenta: de contestação, de experimentação, de liberdade e de autoconhecimento. Ao mesmo tempo, no cenário urbano do Japão contemporâneo, a jornada de Manami é marcada pelo oposto, o sexo frio, longe da experiência transcendental do conto de Bataille, longe da sua proximidade com o divino: o sexo é corriqueiro, banal, impessoal, mecânico, e parte da banalidade, como um aplicativo ou um convite vazio para um ménage.
Reflexivo, Rodas e Eixos tem uma cena muito interessante sobre rebeldia, mas, no fundo, não é tão ousado como a obra na qual se baseia. Entretanto, se coloca bastante aberto para reflexões sobre os relacionamentos amorosos e o sentido da sexualidade.
Por Gabriel Fabri (@_gabrielfabri)
Jornalista, especializou-se em Cinema, Vídeo e TV pelo Centro Universitário Belas Artes. Colaborou com Revista Preview, Revista Fórum, Em Cartaz, Versátil Home Vídeo e com o livro O Melhor do Terror dos Anos 90 (Editora Skript). É autor de Fora do Comum – Os Melhores Filmes Estranhos e O Pato – Uma Distopia à Brasileira.
Site | Instagram
Curte filmes absurdos? Confira o livro Fora do Comum – Os Melhores Filmes Estranhos clicando aqui