Que Estranho Chamar-se Federico!
Por Gabriel Fabri
Federico Fellini, Ettore Scola e Marcello Mastroianni, três figuras importantíssimas do cinema italiano, observam o mar e o céu azul escuro. A conversa dos três é interrompida pela mãe de Mastroianni, que aparece do nada para dar uma bronca em Scola, o diretor de “Que Estranho Chamar-se Federico!“. Ela reclama que, enquanto Fellini transformou seu filho em um galã, o outro só deu papéis que o deixavam mais feio. Impossível não rir com a contraposição de imagens do ator nos filmes de um e de outro.
São momentos assim que tornam especial o novo filme de Scola (mais conhecido aqui por “O Baile”). A obra conta a história de Federico Fellini (responsável por clássicos como “A Doce Vida” e “Oito e Meio”), a partir da visão do diretor, que o conheceu. Por meio de um narrador, que aparece em cena, traços das personalidades e aspectos biográficos dos dois cineastas são intercalados. Esse “documentário encenado” reúne cenas dos filmes de ambos, fotos e, o principal, ilustrações – um ofício que marca o início da trajetória profissional dos dois, em um jornal de sátira política.
Longe de ser um documentário tradicional, o filme é uma bela homenagem a Fellini, que é chamado por Scola de “o maestro”. A personalidade do diretor de “Noites de Cabiria” ganha um retrato bastante interessante com os recursos apresentados. Enquanto acompanhamos a trajetória de Fellini de maneira mais ou menos linear, vemos, por exemplo o retrato de uma de suas manias: dar carona a desconhecidos – em cenas que o apresenta bem mais velho ao lado de Scola, caracterização que é bem discreta pela luz nessas cenas, que foca no banco de passageiros. Uma trilha sonora que remete a circo embala todo o filme, dando um tom festivo à obra.
Quem assistir ao filme não vai ver depoimentos da família de Fellini, ou de especialistas explicando a importância de sua obra para o cinema italiano ou mundial. É um filme de um desenhista para outro; de um cineasta para outro; de um amigo para outro; de Scola para Fellini. Mas uma homenagem nada sentimental, ou convencional. Prova disso é o surpreendente final, que faz um delicioso giro pela obra de Fellini, como se “Que Estranho Chamar-se Federico!” fosse, na verdade, um estranho e divertido carrossel.