Liga da Justiça
O sucesso da personagem Mulher-Maravilha no cinema parecia ser a salvação do chamado Universo Cinematográfico da DC Comics, que a exemplo da sua concorrente, a Marvel, resolveu interligar as suas franquias de seus super-heróis em um mesmo arco narrativo. Primeiro, sua aparição em Batman vs Superman, o segundo filme do universo (sucessor de O Homem de Aço), foi um dos grandes momentos do longa-metragem. Depois, o filme solo da heroína, dirigido por Patty Jenkins, bateu recorde de público para um filme de origem de um herói, e foi bem aceito pela audiência e pela crítica. Dirigido por Zack Snyder, o quinto filme do universo – e o terceiro dentro do arco narrativo central que começa com O Homem de Aço -, Liga da Justiça, joga um balde de água fria em quem esperava que a união dos heróis representasse, por fim, algo significativo dentro da produção de filmes de super-heróis.
Continuação direta de Batman vs Superman, Liga da justiça acerta ao iniciar com o retrato do mundo após a morte do Homem de Aço (Henry Cavill). Há uma das cenas de ação mais legais do filme, na qual Mulher-Maravilha (Gal Gadot) tenta impedir a explosão de um banco (não, não era roubo, era algo mais destrutivo, pois os tempos são outros). Tudo isso ganha dramaticidade pois o filme começa com uma cena inteligente, um vídeo de quando o Superman ainda era vivo, recuperando uma afeição do público com o personagem.
Talvez com medo de parecer muito sombrio, como o longa-metragem anterior, Snyder logo abandona a pretensão de fazer um filme sério ou ao menos de explorar o mundo humano na era em que a esperança, simbolizada pelo herói, está morta. Isso pois esse pano de fundo é esquecido quando aparece um vilão alienígena com zero complexidade, em busca de destruir a terra para comandá-la – o vilão aqui lembra um demônio trash qualquer de seriados dos anos 1990 como Buffy A Caça-Vampiros, sem, é claro, qualquer pingo de criatividade. Por falar em Buffy, o criador da série, Joss Whedon, é responsável por refilmagens de cenas do filme, mas não dá para colocar a culpa do vilão pouco inspirador na conta dele. Whedon é o responsável pelo universo cinematográfico da Marvel e dirigiu os dois Os Vingadores. O dedo dele, provavelmente, está no humor do filme.
Diante dessa ameaça alienígena “assustadora”, Batman (Ben Affleck) não vê outro caminho a não ser reunir um time de heróis para salvar o mundo. O roteiro introduz sucessivamente as novas caras, nos moldes de Esquadrão Suicida. Essas introduções, somadas às cenas de ação de Batman e Mulher-Maravilha, prejudicam o ritmo do início do filme, que fica um pouco truncado, embora seus novos personagens sejam pontos positivos. Ciborgue (Ray Fisher) é o único meio apagado, talvez por ser o único que tenha uma dor a ser explorada (o que é feito superficialmente apenas). Flash (Ezra Miller), claramente inspirado no novo Homem-Aranha, é o jovem engraçado e que traz humor para a equipe. Aquaman (Jason Mamoa) e seu jeito de vilão machão conquista o público.
Com vilão sem graça, trama batida (“a união faz a força” ou Esquadrão Suicida com personagens bonzinhos) e reviravolta previsível no clímax, é triste constatar que o ponto alto de Liga da Justiça é apenas o acréscimo de novos personagens, Flash e Aquaman, que trazem humor e frescor à trama. Liga da Justiça não tem uma única ideia nova boa. Um filme sobre o mundo sem Superman tinha potencial para fantasiar sobre um mundo mergulhado no caos, com vilões interessantes, reviravoltas inteligentes. O resultado é um filme medíocre – o primeiro do universo da DC sem um pingo de inspiração.
Por Gabriel Fabri