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Sete Homens e Um Destino

Um dos gêneros mais badalados da história do cinema, o faroeste perdeu força dentro da indústria após a consolidação dos blockbusters, lá na década de 1980. Mas ele nunca morreu, sendo sempre revisitado – recentemente, Quentin Tarantino se aventurou em duas obras do gênero: Django Livre e Os Oito Odiados. O título desse último é uma clara brincadeira com o nome original de Sete Homens e Um Destino (The Magnificent Seven ou “Os Sete Magníficos”), clássico de 1960 dirigido por John Sturges que levava para o Velho Oeste a história de Os Setes Samurais, de Akira Kurosawa. Na onda de remakes e reboots que toma conta hoje de Hollywood, o filme de Sturges também não passou batido. A nova versão é dirigida por Antoine Fuqua (Invasão à Casa Branca e Nocaute).

Na contramão dos filmes de super-heróis que lotam as salas hoje, preocupados em misturar humor e ação, o primeiro traço desse remake que salta aos olhos é a mudança de tom. O novo Sete Homens é mais sombrio do que a sua versão mais famosa. Os bandidos, liderados por Bogue (Peter Sarsgaard), não querem apenas roubar a comida do pobre vilarejo e não terão limite algum para conseguirem o que querem: o gancho que abre o roteiro dessa nova versão é justamente um ataque desses mercenários a uma Igreja, que resulta em brutais assassinatos. Entre as vítimas, está o marido de Emma (Haley Bennett). A moça então parte para uma cidade um pouco maior em busca de alguém que possa ajudar na segurança da vila, uma vez que Bogue determinou um prazo de três semanas para todos os moradores entregarem, por bem ou por mal, as escrituras de suas casas e fazendas.

Esse começo de tensão não é a única mudança desse remake. Os personagens não são tão bem humorados e não vão aliviar o clima com piadinhas em nenhum momento. Os “sete magníficos” também são personagens diferentes e o grupo está bem diversificado: ao invés de sete homens brancos, agora há um índio (Martin Sensmeier), um mexicano (Manuel Garcia-Rulfo) e um oriental (Lee Byung-hun), além da liderança, que é de um negro, Sam Chilson (Denzel Washington). Fora que estão todos sob às ordens de uma mulher, que será importante, inclusive, para a batalha final. Essas mudanças, entretanto, não fazem muita diferença: o único a falar de “preconceito dos brancos” é o oriental. O curioso, então, é que o longa-metragem de 1960 falava muito melhor de preconceito do que esse: lá, os pistoleiros que lideram o time são escolhidos após enfrentarem a população de uma cidadezinha que não queria que um índio fosse enterrado no cemitério local, destinado apenas para brancos. Aqui, o personagem de Washington mata umas pessoas em um bar atrás de uma recompensa. Se ganhou em representatividade, o longa-metragem perdeu em conteúdo, pelo menos no que se refere a essa questão. Vale ressaltar que muitas frases de efeito do original foram mantidas, e a principal, “Se Deus não quisesse que eles fossem tosados, não teriam feito deles ovelhas”, está muito melhor colocada agora. Entretanto, fez falta uma que encerrava o longa de 1960: “Apenas os fazendeiros vencem. Nós perdemos, nós sempre perdemos”. Essa crítica ao capitalismo some da nova versão, que aposta todas as suas fichas no entretenimento.

A direção de Fuqua já provou ser boa para filmes de ação antes, e aqui não decepciona. O longa-metragem todo é uma grande preparação para a batalha final, quando o vilão finalmente chega à cidade. Entretanto, quando o filme chega nesse ponto, são poucos os personagens que o público já conhece bem. A maior parte dos sete estão ali para fazer volume e mal há conflitos entre eles, embora os roteiristas tenham tido agora a sacada de construir pelo menos uma boa motivação para o principal, o personagem de Washington, além do fato de estarem fazendo o que é certo por pessoas indefesas. Essa pouca conexão com os personagens, embora o filme reserve alguns segundos para cada um deles antes do grande clímax, enfraquece a tal batalha. Mas verdade seja dita: a direção do clímax é alucinante, certamente o ponto alto do longa-metragem. Um acerto: fazer deste o grande momento de ação, enquanto no outro filme havia um confronto preliminar com o bandido.

Um filme com sete personagens principais é um desafio para qualquer roteirista e diretor. Mesmo com muitos personagens esquecíveis, Sete Homens e Um Destino funciona, e é mais enxuto que o anterior. Entretanto, se aparentemente apresenta tantas coisas novas, como o protagonismo feminino, e cenas de ação melhoradas, falha no conteúdo. O resultado é divertido, porém não o torna mais que um faroeste genérico e um filme de ação genérico. Uma ideia boa seria ter colocado a personagem da Haley Bennett como um dos “sete magníficos” – afinal, ela bem que poderia ter sido a personagem principal desse filme e isso sim poderia ser inovador. Como é para essa mulher contratar sete bandidos para lutar? Como ela se sente perto deles? Ela é forte o tempo todo? Um pouco mais de atenção a essa personagem resultaria em um filme bastante diferente e bem mais interessante.

| Gabriel Fabri