Corações Perdidos
Se Ridley Scott é um diretor de grandiosidades, como o clássico ‘Alien – O Oitavo Passageiro’ e ‘Gladiador’, seu irmão vai na contra-mão no primeiro filme de destaque de sua carreira. Jake Scott é o diretor de Corações Perdidos (Welcome to The Riley’s), drama minimalista e construído de sentimentos e não de efeitos.
O filme conta a história de um casal, que oito anos após perder a filha adolescente num acidente de carro, ainda sofre o trauma deixado pelo acontecimento. Os Riley, interpretados por Melissa Leo (de ‘Rio Congelado’ e ‘O Vencedor’) e James Gandolfini (o Tony Soprano do famoso seriado da HBO), vivem juntos, mas distantes. A mulher nunca mais botou os pés fora de casa e o homem a traia com uma garçonete. Nas vésperas de uma viagem a New Orleans para uma convenção, a amante do homem morreu, e este decide partir sozinho na viagem. Na cidade, encontra a stripper Mallory, interpretada por Kristen Stewart (da saga Crepúsculo), e por ela desenvolve simpatia e o desejo de cuidar dela. Enquanto a relação dos dois se desenvolve, Lois (a personagem de Leo) resolve superar seus medos e ir atrás do marido, antes que o perca de vez.
O diretor optou por não tornar a história um drama muito pesado, aliviando-o com momentos cômicos e focando na relação dos três atores (exclui as cenas de morte da garçonete e da filha, por exemplo), gerando um resultado forte e simples. A história começa em torno do personagem mais recluso do filme, o de Gandolfini, Douglas. Ele sofre, mas é forte e não desmorona, não levando o público a sofrer com ele. Seu papel se sustenta bem durante todo o filme, e mesmo quando as outras duas mulheres roubam a cena, ele se mantêm nas atenções de quem assiste. O filme todo é basicamente a relação entre os três.
Melissa Leo se prova mais uma vez fantástica no papel de Lois e é um dos grandes destaques do filme. Mas quem surpreende mesmo é Kristen: sua atuação péssima na pele da menina que tem que decidir entre um vampiro ou um lobisomem de barriga tanquinho é deixada de lado e ela tem a chance de provar que sabe atuar: consegue desviar a atenção de dois atores experientes e consagrados (Melissa Leo ganhou o Oscar esse ano e Gandolfini ganhou o globo de ouro em 2000) e se destacar entre eles.
Mais que um filme de humildade é um filme de superação. É um filme sobre perdas, mas também sobre segunda chance, sobre vida e morte. Sobre três pessoas desamparadas tentando começar (ou recomeçar) uma família. Só poderia ser melhor se o final, inesperado, não fosse diferente do que todo mundo torcia. Um desfecho sem grandes emoções, acanhado. Decepciona no final, mas de resto é muito bom.