O Homem que Mudou o Jogo
Uma agradável surpresa nessa época de premiações é O Homem que Mudou o Jogo (Moneyball). Baseada no livro de Michael Lewis, a obra indicada ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Ator (Brad Pitt) é a que menos se destaca entre os concorrentes, todavia apresenta uma história surpreendentemente cativante e bem realizada.
Na trama, Pitt é Billy Beane, administrador de um time de baseball, esporte que nos EUA é quase equivalente ao futebol no Brasil. Sua equipe enfrenta dificuldades técnicas e financeiras, que se agravaram com a saída de importantes jogadores, o que leva o personagem a classificá-la como “abaixo dos times pobres e de 15 metros de merda”. Diante dessa visão pessimista, Beane percebe que a maneira de lidar com as saídas dos integrantes está errada e que ele precisa reinventar o grupo para vencerem os grandes clubes. Quando se encontra com um jovem recém-formado em economia, depara-se com uma estratégia baseada em matemática que consiste em contratar jogadores que nunca seriam aceitos num plantel de peso. Mas será que tal medida arriscada dará certo?
Usar um esporte como plano de fundo para falar de coisas maiores não é novidade em Hollywood. Clint Eastwood fez recentemente uma obra prima com Invictus, que tinha o rugby como parte essencial da trama. Em ambos os filmes os diretores conseguiram fazer quem não entende ou simplesmente não gosta de assistir a esportes apreciá-los por uns momentos. Bennet Miller (Capote), que dirige Moneyball, não consegue envolver tanto o espectador nos jogos como a proeza realizada por Eastwood (de longe um diretor muito mais habilidoso), entretanto articula a história real de Billy Beane e sua tentativa ousada de salvar seu quadro de maneira muito interessante, sem deixar o esporte em si se destacar nem por um segundo sob seu personagem principal, seus dilemas e desafios. A montagem com cenas reais das partidas ajuda a reforçar que o que está nas telas não é ficção e os flashbacks de Beane também são utilizados com firmeza.
Brad Pitt tem toda a força que seu personagem deveria transparecer e sua atuação é um grande destaque no filme. Ele já havia sido indicado anteriormente por Doze Macacos e O Curioso Caso de Benjamin Button, e realmente mereceu ser lembrado na cerimônia do Oscar em 2012. Nenhum dos outros atores ofusca seu brilho, com exceção de Casey Beane (Kerris Dorsey, da série Brothers and Sisters), no papel de sua filha, que tem importância enorme para a parte mais fofa do filme, que talvez seja o motivo do maior sorriso que se pode dar ao assisti-lo. Philip Seymour Hoffman (Tudo Pelo Poder) está presente mais para atrair público, já que seu papel não exige nada do ator, que poderia ter sido substituído por um desconhecido qualquer, o que é meio decepcionante para quem o viu em Capote, o primeiro trabalho do diretor Miller.
Assim como Invictus não é um filme sobre futebol americano, O Homem Que Mudou o Jogo não é sobre baseball. Amantes do cinema e não dos esportes podem respirar aliviados e assistir a ele com a certeza de que será envolvido nessa boa obra. Impossível não simpatizar com ela.