O Artista

     

      Na passagem do cinema mudo para o falado, que começou em 1927 com o lançamento Hollywoodiano O Cantor de Jazz, muitos astros perderam os seus empregos por suas vozes não serem das mais agradáveis, seja por falta de habilidade ou sotaque acentuado. No final de 1929, todos os filmes produzidos na indústria cinematográfica eram falados. O que aconteceu com esses astros já foi tema de Crepúsculo dos Deuses e Cantando na Chuva e agora é retomado no filme mais comentado e mais premiado da temporada: a produção francesa O Artista (The Artist).
        O ator vencedor do Globo de Ouro e indicado ao Oscar por essa obra é Jean Dujardin, que interpreta George Valentin, uma grande celebridade de Hollywood. Sua carreira termina com a chegada do som às produções, enquanto uma fã (Bérénice Bejo, indicada ao Oscar) que se tornou atriz por sua causa, por acidente, alcança o estrelato no cinema falado.
        O filme é muito semelhante à Cantando na Chuva, principalmente com sua premissa. Os dois falam do mesmo conturbado período de transição com foco nos atores, e O Artista é uma homenagem explícita a esse musical que homenageia os primórdios de Hollywood. Entretanto, enquanto o primeiro é cantado e bem colorido, o outro faz uma verdadeira viagem ao passado e é mudo e em branco e preto. Ou seja, é uma obra que se destaca por usar uma estrutura não utilizada a mais de oitenta anos.
        O contraste com as superproduções de hoje, com uso de 3D e computadores, como Avatar e A Invenção de Hugo Cabret, o outro forte candidato ao Oscar de melhor filme (que curiosamente também é um tributo ao início do cinema), é gritante. O modo como a história é apresentada é o que mais chama a atenção para o filme, mas engana-se quem pensa que é só por essa “inovação” que ele é considerado o melhor filme do ano para muitos. Todo o clima e o charme das comédias de antigamente, as sutis brincadeiras com o cinema mudo e uma história cativante, bem escrita e muito bem dirigida e atuada são o que fazem de O Artista a obra prima que ela é.
        Na contramão de quem considera originalidade o principal fator ao avaliar positivamente um filme, O Artista é bom porque resgata elementos nada originais da história cinematográfica de uma maneira envolvente e divertida, entretendo e despertando nostalgia até mesmo em muitos que não viveram a época e assistem aos clássicos mudos (se é que assistem) com um abismo temporal gigantesco. Cinema homenageando o cinema também não é novidade (lembre-se de Fale com Ela, de Pedro Almodóvar, e o bizarro tributo que ele criou, ou mesmo do já citado Cantando na Chuva), todavia O Artista é uma homenagem digna de ser aplaudida, como os filmes antigos são aplaudidos logo no início desse longa.

      

7 comentários em “O Artista

  • 22 de fevereiro de 2012 a 00:56
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    o que eu achei muito interessante nesse filme é o contraste com outras produções, cheias de efeitos especiais e tecnologias… em sua homenagem ao cinema, "o artista" faz cinema puro, sem pirotecnia, sem computação gráfica, sem complicação nenhuma… é apenas uma boa história, contada de modo divertido e sensível… comme il fault!

  • 22 de fevereiro de 2012 a 01:11
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    Adorei! Adorei a crítica, adorei o filme, adorei o blog, adorei tudo.

  • 22 de fevereiro de 2012 a 21:52
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    Olha, não há dúvidas de que o aspecto técnico do filme é impressionante… a ousadia e a inovação do Hazanavicius de trazer uma estética já abandonada (ou relegada a pequenos flashbacks pontuais em certos filmes) é louvável. Adorei a reconstituição história, os figurinos, a cenografia, a fotografia, os contrastes luz/sombra… Foi acertadíssima a decisão de reproduzir fielmente o modus operandi do cinema mudo (com sua câmera parada e enquadramentos básicos) contrapostos com o do cinema falado, com planos mais elaborados, como o travelling-in na cena final, por exemplo…
    Mas achei o roteiro fraco. Fraco não, anêmico! Estrela decadente/Desconhecida em sumária ascenção: com um argumento desses, dava pra fazer um filme ótimo, explorando a trajetória de cada e ainda acrescentar uma carga dramática maior com o relacionamento deles. Mas o que se vê na tela é bem diferente disso, porque o cara optou por privilegiar enormemente o aspecto técnico do filme e se esqueceu que filme, em primeiro lugar, é mais que embalagem. São poucas as cenas que mostram o conflito dos dois personagens. Ora vemos a mocinha toda pimposa estrelando capas e mais capas de revistas, ora vemos o ex-galã queimando rolos de negativo. Não mostra nenhuma crise de consciência por parte dela, nenhuma reflexão por parte dele. No final o cara percebe que é melhor aceitar a nova maneira de cinema ou vai morrer de fome – e o filme acaba assim…
    Decepcionante, eu achei.

  • 22 de fevereiro de 2012 a 22:06
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    oi marie… sabe, eu achei que esse tom meio naif do filme faz parte… se vc for assistir as produções da década de 20/30, elas são assim mesmo, simples, lineares… não há grandes conflitos psíquicos nos personagens, eles são um pouco flat, suponho que por conta do objetivo do cinema na época: simplesmente divertir… essa noção que temos hoje, de que os bons filmes são os que nos fazem refletir e/ou os que nos surpreendem pela forma insólita, original, criativa, bem tudo isso é bem posterior aos anos 20/30… rodolfo valentino, errol flynn, teda bara, pola negri eram atores quase superponíveis aos personagens desse "o artista"… enfim… tudo isso pra justificar um pouco isso que vc qualificou como fraqueza do roteiro, mas que a mim foi o que encantou! abço!

  • 22 de fevereiro de 2012 a 22:32
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    Hey Marcia! Olha, discordo de você quando diz que os as produções de 20/30 são lineares, sem grandes conflitos psíquicos. Acho que isso se aplica sim à várias produções da época, mas não chega a ser uma lógica mandatória. Havia sim os filmes destinados a entreter e "encher os olhos" apenas, havia outros mais experimentais, hoje vistos como "cult", com uma dimensão psíquica maior dos personagens… e havia o meio-termo. E é esse meio-termo que me interessa, é disso que senti falta em 'O Artista'. É comum essa ideia de dissociar forma de conteúdo, como se um filme, por ser belo, não pudesse ser profundo e vice-versa. Mas a História nos mostra que os filmes mudos lembrados e reconhecidos até os dias de hoje e que conseguiram driblar o ostracismo são justamente aqueles que nos dão uma dimensão psíquica de seus personagens. A Caixa de Pandora; Salomé; Diana, a Caçadora; Veneza Americana, O Gabinete do Dr. Caligari: todos esses apresentam personagens de duas dimensões, e não bonequinhos de papel como em 'O Artista'. São filmes que ultrapassam essa coisa de feel-good movie e apresentam conflitos (não necessariamente conflituosos, mas a ricas nuances do que é ser humano) próprios da história.
    O resto é estudo de caso ou pôster saudosista das feirinhas de antiguidades… Ou a lembrança de um filme da Teda Bara é anterior a ela própria?!

  • 22 de fevereiro de 2012 a 22:45
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    Eu acho que o motivo de O Artista ter funcionado tão bem é mesmo por ser um simples feel good movie, como a maioria dos filmes produzidos na época em Hollywood. Europa sempre foi outra coisa, mas acho que o modo como O Artista foi feito pedia mais uma comédia água com açucar do que um filme mais intimista. Se os personagens fossem mais aprofundados, o longa ficaria meio descaracterizado, eu acho. Concordo que o que o diretor quis privilegiar foi mesmo o aspecto técnico.. se o filme fosse feito nos padrões de hoje, essa carga dramática seria mais que bem vinda: necessária para o filme não cair em clichês. Esse caiu, mas para mim, de propósito.

  • 3 de março de 2012 a 22:16
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    bem lembrado, marie… é verdade, vc citou filmes que não cabem no feel good movies, como vcs disseram… na verdade, não sei justificar… gostei muito do filme… em geral sou fã de cinema europeu, iraniano, turco, argentino, tudo menos americano… mas talvez por este ter essa carinha vintage e não ter, aparentemente, nenhuma outra pretensão senão divertir, ele tenha me soado verdadeiro… acho que é isso o que me encantou… mas enfim… gosto é gosto, né?? abço

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