Diário de um Jornalista Bêbado
Um jornalista a caminho de um emprego num medíocre jornal de Porto Rico avista uma loira maravilhosa no aeroporto, que embarca no mesmo voo que ele. Numa tentativa de fazê-la se sentar ao seu lado no avião, briga com um velho, no qual acaba batendo e armando o maior barraco. É dessa maneira hilária que se inicia Rum: Diário de um Jornalista Bêbado, romance de Hunter S. Thompson que deu origem a esse longa quase homônimo de Bruce Robinson, com Johnny Depp no papel principal.
Thompson escreveu o livro nos anos 60, iniciando seu romance quando estava com 22 anos na mesma cidade de Paul Kemp, o protagonista e também o alter ego do autor. Embora a obra seja ficção, muitos tendem a afirmar ser um relato autobiográfico do período, o que é errado, mas é verdade que há muito de sua vivência em San Juan no personagem e em toda a trama. O livro do americano difere do jornalismo gonzo, que o tornou conhecido, com obras como o famoso Medo e Delírio em Las Vegas, também adaptado para o cinema em outro longa estrelado por Johnny Depp, em 1998, mesmo ano em que Rum foi publicado.
O filme tinha como base uma divertida e politicamente incorreta obra para adaptar, e com um grande viés crítico da intervenção americana em Porto Rico. É decepcionante para quem leu o livro o resultado final da adaptação: tudo de cômico ou foi cortado ou desastradamente transposto para a tela, sem muita graça. Depp interpreta um Kemp elegante, mas o idealiza demais moderando no Kemp errante: o mais bêbado que ele fica é na cena inicial, ou talvez quando ele diz que está vendo tudo dobrado (e fala uma de suas poucas frases que provocam riso, ao contrário de muitas dos livros).
Se os diálogos não conseguem ser engraçados como nos livros, o filme tenta criar situações mais cômicas do que as das páginas. É exatamente nesses pontos que a obra acerta: duas cenas excelentes envolvendo carros serão o ápice de risadas. Entretanto, uma ou outra cena além dessas (a do tribunal e a do disco nazista) que essas mudanças funcionam, pois algumas tentativas de provocar riso, como uma envolvendo uma DST, provocam certa indiferença, ou pior, vergonha na plateia. A cena hilária mencionada no início dessa resenha, em que o protagonista vê a bela Chenault (Amber Heard, de Fúria sobre Rodas) pela primeira vez, é substituída por um encontro em alto mar, uma tola coincidência. Outra mudança que é interessante notar: um personagem, dos mais importantes, foi excluído da trama, e suas situações atribuídas a outro.Yeamon e Sanderson (Aaron Eckhart, de Reencontrando a Felicidade) viram a mesma pessoa. Isso dá uma ótima oportunidade para que mais do livro seja incluido, pois simplifica a trama para desenvolver melhor seus protagonistas.
Todavia, mesmo com os personagens bem desenvolvidos, algumas novidades engraçadas, a beleza de Porto Rico (evidenciada pelo curioso uso de paletas escuras para a ação dos atores e claras para as paisagens) e a crítica social presente (e que bela frase a de Oscar Wilde: “o homem sabe o preço de tudo e o valor de nada”), há algo faltando em Diário de um Jornalista Bêbado, que chega a ser um filme tedioso e fraco. O resultado é muito aquém do esperado. Faltou mais rum.