Bistrô Romantique


Por Gabriel Fabri

A reabertura do cinema Belas Artes, em São Paulo, vai ganhar um tempero especial. O longa-metragem belga “Bistrô Romantique“, de Joel Vanhoebrouck, teve a sua estreia programada para inaugurar a nova programação de um dos mais cultuados espaços culturais da cidade. Para os amantes da sétima arte, a escolha faz todo o sentido: um filme sobre o dia dos namorados, em um momento especial para quem nutre com o cinema uma relação tão íntima e especial como um namoro. A reinauguração de um espaço querido que foi (e agora será ainda mais) palco de encontros e desencontros, físicos ou imateriais, com pessoas ou com sonhos.
E, assim como o Belas Artes, o tal Bistrô Romantique que dá nome ao filme também é um espaço de encontros e desencontros – de amores, ilusões e desilusões. O restaurante de Pascaline preparou um menu especial para receber os casais que vieram jantar no dia dos namorados – o champanhe com licor de rosas é apenas um aperitivo, refinado como os outros pratos. Entretanto, o primeiro cliente a chegar, por sinal, desacompanhado, é um presságio de que não será uma noite tranquila. Trata-se do ex-namorado de Pascaline, que chega 23 anos depois do fim do relacionamento, com uma proposta radical.
Ao invés de chamar as suas divisões de atos ou capítulos, “Bistrô Romantique” divide-se da mesma maneira que o menu da noite especial: o aperitivo, as entradas, o prato principal e a sobremesa. Os closes nas comidas não são exagerados a ponto de deixar a plateia com fome, para o alívio geral de quem deixou o jantar para após da sessão ou mesmo de quem não suporta quando filmes de culinária esquecem de suas histórias para enrolar com a exibição de pratos refinados. Pelo contrário, o único momento em que a discussão sobre comida, nesse caso sobre um vinho tinto, parece se arrastar demais na fala de um cliente é uma deixa para uma cômica cena que, apesar de previsível, se encaixa e funciona muito bem no contexto da projeção.
O filme intercala os momentos na cozinha, em que a equipe liderada pelo irmão de Pascaline, o chef Ângelo, tenta aprontar a comida dos fregueses, e a dinâmica do próprio restaurante, com a casa cheia. Enquanto Pascaline e o garçom se movimentam entre os clientes, o filme intercala também as histórias das pessoas sentadas em cada mesa. 
Uma salada de tantos personagens poderia dar muito errado, mas o diretor estreante Vanhoebrouck consegue equilibrar bem as subtramas, explorando um pouquinho de cada uma. A opção não deixa que elas sejam aprofundadas, mas foi o ideal para que o divertido resultado fosse consolidado.
Nesse restaurante, apresentam-se as mais variadas formas e etapas do amor, não só o romântico. A convivência entre irmãos, funcionários, colegas e a família; o conflito entre passado, presente e futuro, presente em todas as relações, sobretudo na que envolve Pascaline e o ex-namorado; um casamento em ruínas, um namoro recém começado, um homem solitário e inseguro em um encontro à cegas, uma mulher sem rumo com o fim do casamento; os novos, os velhos e os reacesos amores. Em um simples restaurante, as mais diversas possibilidades de histórias, assim como em uma sala de cinema. Pode soar clichê, em certos momentos até é, entretanto “Bistrô Romantique” contorna esse problema de maneira agradável e funcional.

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