Miss Julie
Por Gabriel Fabri
Os fãs da série britânica “Downtown Abbey”, exibida no Brasil pelos canais GNT e TV Cultura, devem se interessar por “Miss Julie“, novo filme escrito e dirigido por Liv Ullmann, a eterna musa de Ingmar Bergman. Adaptação da peça de mesmo nome de August Strindberg, o longa-metragem também explora a relação da aristocracia inglesa com seus empregados.
O ano é 1890. No dia do solstício, quando o Barão não está em casa e todos os funcionários estão de folga, a nobre residência de Miss Julie (Jessica Chastain) conta com apenas a cozinheira Kathryn (Samantha Morton) e o lacaio Jean (Colin Farrell) em suas dependências. A aristocrata, filha do Barão, aproveitará o feriado para dar em cima de Jean, mesmo sabendo que ele e Kathryn tem alguma espécie de ligação amorosa, apesar de não revelarem esse tipo de relacionamento às claras. O problema é que, além de Jean se ver seduzido pela moça, ela é, na verdade, a grande paixão platônica de sua infância.
Com apenas três atores em cena, o longa-metragem se sustenta ao longo de 129 minutos apenas com os diálogos longos e afiados de seus personagens, como na peça teatral. O texto funciona bem nas telas e consegue dar profundidade ao triângulo amoroso, ao mesmo tempo que levanta questões como a relação entre as classes sociais, a posição da mulher e a questão da honra em uma sociedade de valores tão atrasados como a inglesa do final do século XIX.
Apesar de se tornar um pouco cansativo e, em alguns momentos, a atuação muito teatral dos atores, como se estivessem representando no palco, incomodar, “Miss Julie” é um bom filme. Chastain e Farrell estão deslumbrantes em seus papéis e o texto é rico em detalhes da época, além de ser repleto de sentimentos profundos, mas nem por isso menos confusos e ambíguos, o que torna o filme uma obra muito rica na construção de seus personagens.