O Julgamento de Viviane Amsalem
Por Gabriel Fabri
Assistir a O Julgamento de Viviane Amsalem é um choque cultural logo na primeira cena. É apresentado o início de um julgamento, em um tribunal israelense, onde uma mulher entra com o pedido de divórcio, que não é aceito pelo marido. A revoltante sequência inicial dá a prévia do que veremos ao longo de toda a projeção: um retrato de uma sociedade machista, em uma corte totalmente subordinada aos preceitos e preconceitos religiosos.
O longa-metragem é totalmente ambientado nessa corte e o público acompanha todas as cenas de um julgamento que dura mais de anos. É um caso nada complicado: Viviane (Ronit Elkabetz) quer apenas se divorciar, pois está infeliz no casamento. Nem sequer mora mais com Elisha (Simon Abkarian), seu marido. O homem simplesmente não quer deixá-la ir embora e, para piorar, os juízes fazem de tudo para dificultar a emancipação da mulher.
Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, o longa-metragem expõe o desrespeito pelo qual a mulher é tratada, com base na religião. O filme provoca no público uma vontade de bater em todos os personagens masculinos, com exceção de Carmel (Menashe Noy), o advogado de Viviane. Mas a plateia não pode gritar e dar chilique, devendo acompanhar todo o lento processo de julgamento que, sob a direção da atriz principal e Shlomi Elkabetz, mantém o público vidrado com os argumentos dos dois lados e dos juízes. Além, é claro, dos interrogatórios das testemunhas, que enriquecem bastante o filme.
Além de falar sobre a condição da mulher, O Julgamento de Viviane Amsalem também é um alerta sobre os perigos da mistura entre Estado e religião. Um julgamento justo teria encerrado a questão rapidamente. Mas não, e Viviane passa por todo o tipo de humilhação naquela salinha. Para piorar, os juízes são tão tontos que conseguem até cair em um truque dos mais baixos do advogado de Elisha, que tenta insinuar uma relação adulterá entre Viviane e Carmel, em uma das milhares de tentativas de desviar o foco da discussão. É um filme duro, mas necessário.