A Atração (40a Mostra)
Um musical polonês com sereias sensuais que viram atração em um cabaré? Partindo dessa premissa, não é difícil supor que A Atração (The Lure), de Agnieszka Smoczyńska, seja um dos filmes mais peculiares da 40ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Embora não seja tão ousado como promete a premissa, o longa-metragem é um divertido e sexy entretenimento, que mostra uma realidade triste, mas verdadeira, embora em um verniz fantasioso: nós estamos sempre tentando mudar a nós mesmos para sermos aceitos pelo outro.
A tal atração do título provavelmente não se refere a Prateada (Marta Mazurek) e Dourada (Michalina Olszanska), as duas sereias que vão parar em um bar de strip tease na Polônia e acabam sendo o maior destaque do show. É a atração sexual, o fascínio que as duas garotas exercem no público e, principalmente, nos homens e mulheres dos bastidores do cabaré. Mesmo não tendo os órgãos sexuais humanos, pois são metade peixe, elas exercem uma grande sensualidade, acentuada pelas vozes que cativam a todos. Prateada, entretanto, se apaixona por um garoto, que não a aceita como sereia. “Você será sempre como um peixe para mim” são as palavras cortantes que ela recebe, o que desencadeia um desejo de que ela realize uma cirurgia para tornar o seu corpo totalmente humano.
A sensação é de que o roteiro se perde um pouco em meio a tantos números musicais, mas o filme consegue um bom ritmo e o final não poderia ser mais digno com a história das duas sereias. Mas há muitas pontas que poderiam ser melhor exploradas, como, por exemplo, a telepatia das sereias ou a questão do canibalismo: é uma opção ou uma necessidade delas? Enquanto o público se perde no fascínio com essas duas personagens, fica a questão de como as sereias veem os humanos. Afinal, Prateada se apaixona muito rápido, e, em uma canção na cidade, por exemplo, as duas parecem muito ingênuas com relação a esse mundo. Entretanto, Dourada mostra-se ao longo do filme como a voz da razão nessa dupla – se esse fosse um filme de vampiros, ela seria aquele que chupa sangue mesmo, e daí? -, enquanto a outra deixa-se levar pelas emoções (e se ferra por isso) e pelo carinho que tem pelos humanos. Dourada quer devorá-los. E a provocação aqui, mais ainda do que a questão de querer mudar quem você é por alguém que você ama, é que Dourada está certa. O público vai preferir as sereias canibais aos homens, não só porque são belas e peculiares. E com certa razão.
| Gabriel Fabri