Animais Noturnos (40a Mostra)
Exibido no Festival de Veneza, e premiado com o Leão de Ouro de Melhor Diretor para Tom Ford (Direito de Amar), o longa-metragem Animais Noturnos (Nocturnal Animals) é um inquietante suspense policial. Adaptação do romance Tony e Susan, de Austin Wrigth, o filme intercala duas histórias, a de uma comerciante de artes plásticas e a do livro que ela lê, escrito pelo seu ex-marido. Além dessas duas narrativas, há também os flashbacks que mostram o início desse relacionamento do autor e da leitora.
Susan (Amy Adams) está insatisfeita com a sua vida, após quase vinte anos casada. Tanto no casamento, com o marido a traindo, e na profissão, com uma exposição que retrata o corpo de mulheres obesas e que a deixou insatisfeita, Susan está inquieta. É quando chega um pacote em sua casa, um manuscrito de um livro que seu ex-marido, Tony (Jake Gyllenhaal), escreveu e dedicou a ela. Eles não se veem há 19 anos e a repentina chegada da cópia de “Animais Noturnos” a surpreende.
O público, também estranhando esse contato após quase duas décadas, logo embarca na história escrita por Tony. Gyllenhaal e Adams interpretam o casal principal do livro, que já começa de maneira perturbadora: em uma sequência carregada de tensão, um casal e sua filha estão viajando de carro quando começam a ser perseguidos no meio da estrada por um grupo de jovens delinquentes.
A história que Tony escreve pode não ser muito criativa, mas prende a atenção, discutindo a violência contra a mulher. Mas aos poucos o envio daquele manuscrito começa a parecer uma violência em si, uma provocação, um recado para Susan: ela vive uma vidinha perfeita com o marido rico e charmoso, mas deixou feridas abertas que não cicatrizaram. Por meio do manuscrito, e apenas por meio dele, o público imagina o que sente e pensa, após duas décadas, Tony, com o qual Susan reluta um pouco em reencontrar – ela quer terminar a história dedicada a ela antes. Pensar que passa pelo título um paralelo entre os algozes do livro e Susan deixa tudo, principalmente os flashbacks, mais instigante. Com acesso apenas a Susan, o público se pergunta, quem é Tony? Esse manuscrito é mesmo um ato de carinho ou é uma espécie de vingança dele? Assim, de maneira habilidosa, o roteiro e a direção de Tom Ford criam personagens complexos e intercalam essas três linhas narrativas com maestria.
| Gabriel Fabri