Sully: O Herói do Rio Hudson

Após trazer para os cinemas a biografia do atirador Chris Kyle em Sniper Americano, abordando de maneira magistral e dura a trajetória do homem condecorado por matar mais de 150 pessoas, Clint Eastwood retorna com o retrato de outro herói americano em Sully: O Herói do Rio Hudson. Dessa vez, entretanto, o personagem é uma figura mais fácil de simpatizar, e o filme muito mais leve, com a semelhança de que o status de herói do protagonista também é questionado.

Em janeiro de 2009, um avião colidiu com pássaros e fez um pouso forçado nas águas do rio Hudson, em Nova Iorque. O piloto Sully (Tom Hanks) tomou a decisão bastante arriscada, mas conseguiu pousar sem fazer nenhuma vítima. O problema é que supostamente havia outras alternativas para pousar, e Sully, mesmo tratado como herói pela imprensa, precisará se questionar sobre a decisão que tomou durante as investigações sobre o acidente.

O filme, desde o início, leva o público a simpatizar com os personagens do piloto e do co-piloto, interpretado por Aaron Eckhart (Batman – O Cavaleiro das Trevas). Além de terem salvo 155 vidas, eles agora sofrem com o cerco da imprensa, e podem até ser condenados por negligência, sob a teoria de que colocaram todas aquelas vidas em risco quando poderiam ter feito uma aterrizagem mais segura. Há, em Sully, o peso da dúvida: e se a história tivesse terminado de maneira diferente?

Construindo habilmente toda a tensão pós-aterrizagem, Eastwood ainda reconstrói, fragmentando a narrativa, o dia do acidente. São, portanto, duas histórias tensas correndo paralelamente: o dia e o terror do acidente; o enfrentamento das consequências pelas decisões tomadas no susto. Tudo bem amarradinho, o diretor mantém o público instigado do início ao fim. Embora o clima do filme seja leve – afinal, o personagem tem na consciência limpa ter salvado a todos, mesmo que concluam que tenha sido de maneira imprudente -, com o longa-metragem terminando com uma bela risada no rosto do público e dos personagens, fica um mal estar nessa situação toda, a constatação de que o desejo por achar culpados em tudo seja tão forte ao ponto de, e isso foi uma história real, submeter o indivíduo a uma longa e enviesada investigação, ao invés de lhe darem paz e uma medalha. Fica a indagação: teria o personagem de Sniper Americano passado por tamanha investigação por cada morte que causou antes de ganhar a sua condecoração?

| Gabriel Fabri

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