Frantz
Diretor versátil, que transita bem entre o drama e a comédia, o francês François Ozon (Uma Nova Amiga, Potiche – A Esposa Troféu) é um dos destaques do Festival de Cannes de 2017 com o suspense erótico L’Amant Double. Enquanto esse longa-metragem não chega ao Brasil, o Festival Varilux traz sessões do filme anterior, o drama Frantz, cuja estreia no circuito comercial é prevista para junho. O drama fala das dificuldades de viver com o luto e a culpa, em um cenário pós-I Guerra.
Interpretada por Paula Beer, Anna estava noiva de um soldado alemão morto na I Guerra Mundial. Vivendo em luto com os pais do noivo, a vida da garota muda quando um homem francês aparece alegando conhecer o falecido. Mesmo sendo um inimigo de guerra, Adrien (Pierre Niney) acaba sendo bem recebido e incorporado à dinâmica familiar, sob os olhares tortos dos amigos e vizinhos alemães. Entretanto, como fica claro desde o início para o público, Adrien guarda um segredo.
Frantz explora as tentativas dos seres humanos de superar o luto, partindo de um caso emblemático, em que a pessoa morreu em vão: uma guerra idiota, afinal, em que o pai, por exemplo, se culpa de ter convencido o filho a lutar sobre o pretexto de defender o país. A graça do longa-metragem, entretanto, é focar em algo pouco comum em dramas sobre superação do luto: a mentira.
Em Frantz, até a estética é mentirosa: nos momentos supostamente mais felizes, o filme deixa de ser preto e branco e recebe cores. Entretanto, tais momentos começam a ser questionados, como um flashback de Adrien depois negado pelo próprio personagem – em outros momentos, como a cena final, o uso das cores parece ser um tanto irônico. A verdade é que não sabemos o que é verdade e o que é mentira em Adrien, mas com relação a Anna o público é ciente de seus sentimentos – e entende quando ela tece uma bola de neve de mentiras para proteger os pais do falecido noivo, enquanto o público não tem certeza até que ponto a história de Adrien é verdadeira.
Longe de criar soluções fáceis, Frantz mostra como uma mentira pode ser um mecanismo de proteção para os outros e para si mesmo, não a mostrando como algo inteiramente ruim. Mas é nocivo para quem a conta, e a prova é que as mentiras ou incertezas do filme deixa o público apreensível.
Por Gabriel Fabri