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Um Instante de Amor

É comum vermos pessoas menosprezando o feminismo e suas conquistas. Sem entrar no mérito dessa discussão, é possível afirmar que Um Instante de Amor (Mal de Pierres) tem a qualidade de trazer a tona um passado não tão distante, mas no qual a situação das mulheres era um tanto mais perversa do que na atualidade – aos olhos de hoje, percebe-se o quanto de avanço foi concretizado, mesmo que não seja esse o tema principal do filme dirigido por Nicole Garcia e que teve oito indicações ao prêmio César 2017. O longa-metragem integra a programação do Festival Varilux.

Gabrielle (Marion Cotillard) tem uma desilusão amorosa e perde a linha em uma festa, agredindo o homem pelo qual estava apaixonada, mas não era correspondida. Os pais a obrigam a se casar com um homem aleatório, que ela sequer conhecia. Os dois chegam ao acordo de que se casariam, mas não fariam sexo. Condenada a um casamento infeliz (não fica claro porque ela aceitou tal proposta, mas pode-se supor vários motivos, como a única chance de sair dos olhos dos pais), Gabrielle muda sua vida quando é diagnosticada com pedra nos rins e é levada a uma clínica para se tratar. Lá, encontra o soldado André (Louis Garrel), um soldado muito debilitado.

Profundamente triste e melancólico, apesar de se tratar de uma história de romance, o longa-metragem joga o espectador na monotonia e no vazio da vida de Gabrielle, condenada a uma vida como acessório de seu marido. O resultado é angustiante, mas poderia ser mais: sem ritmo e sem muita imaginação, o filme se arrasta. Tem uma boa reviravolta, mas que poderia ser melhor explorada, se o longa-metragem abordasse com mais ousadia os desejos da personagem principal. Algumas coisas são mal explicadas: por exemplo, por que ela se interessaria por um homem debilitado como o personagem de Garrel? E qual o papel da figura da enfermeira nisso tudo?

Faltando ritmo e ousadia, Um Instante de Amor vale por retratar um desejo reprimido feminino, numa época, durante a II Guerra, que isso era muito mais comum do que podemos imaginar, com casamentos forjados e estruturas repressoras patriarcais fortemente de pé.

Por Gabriel Fabri