Homem-Aranha: De Volta ao Lar
A franquia do Homem-Aranha ganha a sua segunda repaginação nos cinemas, após três filmes com Tobey Maguire e dois com Andrew Garfield, ambos no papel do adolescente nerd que é picado por uma aranha e ganha super poderes. Reapresentado em Capitão América: Guerra Civil, o aracnídeo agora é interpretado por Tom Holland e tem a missão de trazer um dos super-heróis mais famosos da Marvel para dentro do universo cinematográfico de Os Vingadores. A nova aventura aposta, entretanto, em uma versão do personagem mais jovem que as anteriores, em um mundo em que ser herói não é mais lá uma grande novidade.
O risco maior de Homem-Aranha: De Volta ao Lar seria justamente perder a conexão com a fantasia adolescente de, em um belo dia, transformar-se em tudo o que ele deseja ser – mas descobrir que, como já virou clichê dizer, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. Em um mundo onde existe o Homem de Ferro, o Capitão América, o Thor (um alienígena com um martelo mágico!) e o Hulk (um homem que fica verde e gigante quando tem raiva), o que significa se tornar um Homem-Aranha? Ainda mais tratando-se de um jovem que acaba de entrar na adolescência, essa é uma questão que torna De Volta ao Lar muito diferente dos outros longas-metragens. Não só ele não é o único herói, como também tem um mentor bilionário como tutor, o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.).
O filme dirigido por Jon Watts, entretanto, tenta ao máximo trazer esse Homem-Aranha para o público adolescente, focando ainda mais nas situações do colegial, trazendo tanto o tema do bullying e de não se encaixar nos padrões (de maneira bem leve) quanto o de conquistar a primeira namorada. O conflito com o vilão, interpretado por Michael Keaton, fica em segundo plano, pois o roteiro sabiamente foca na questão da formação do herói, e coloca o personagem de Keaton apenas como uma oportunidade de o aracnídeo provar o seu valor para o Homem de Ferro – como um filho provando o seu valor para o pai ou buscando o reconhecimento de alguém superior.
Sem um grande vilão, e com muito humor (muito graças ao melhor amigo atrapalhado, Ned, interpretado por Jacob Batalon) o novo Homem-Aranha decola. Um exemplo é que, na cena de maior tensão tanto para o público quanto para o herói, uma sequência em um monumento em Washington, toda a ação acontece sem a presença do vilão – o perigo, na verdade, é causado pela imprudência e teimosia do herói, que quer impedir a todo custo e sozinho um contrabandista de armas alienígenas de fazer negócios com criminosos. Não é preciso nem dizer que essa cena em questão é melhor do que o batido confronto entre herói e vilão, que torna o clímax sonolento e aquém do resto do filme.
Engraçado e envolvente, o novo Homem-Aranha ganha pontos também por não recontar a história de origem do herói, como no primeiro reboot da franquia. Mas perde, por exemplo, ao trazer um herói altruísta demais, que se vê enrolado com as questões escolares, mas acaba deixando elas para segundo plano sempre, para provar que pode ser um Vingador. Difícil imaginar, porém, um adolescente de 15 anos que coloque a carreira na frente do romance.
| Gabriel Fabri