Blue My Mind (41ª Mostra)
Um dos filmes mais marcantes da Mostra do ano passado foi o polonês A Atração, um musical sobre sereias canibais. O mito da sereia volta à edição desse ano no filme Blue My Mind, de Lisa Ivana Brühlmann, que integra o Foco Suíço da 41ª edição do evento. O longa-metragem retrata a transformação gradual de uma adolescente normal em uma sereia.
Mia (Luna Wedler) acaba de chegar em uma nova escola, após mudar de cidade com os pais. Com medo de sofrer bullying por ser a garota nova, ela se alia ao grupo de meninas populares. Mia vai, aos poucos, percebendo que as transformações do seu corpo na adolescência são maiores do que as das meninas comuns.
O mito da sereia já ganhou diversas versões desde a Grécia antiga, mas é comum associarmos sereia à sensualidade feminina. Talvez seja por isso a escolha do roteiro de transformar Mia em uma criatura da água: seu corpo se transformando em um suposto objeto de desejo, de poder. Luna Wedler esbanja sensualidade no papel da jovem, que busca no sexo e nas drogas um escapismo para as suas transformações. Mas a garota não pode negar quem ela é, não pelo prazer dos outros – ela não é A Pequena Sereia, que abdica de quem é por um outro, mas ao mesmo tempo é o que ela faz. Ela quer ser uma garota normal e sobreviver ao colégio.
Além de retratar a agonia de estar mudando, de coisas estranhas estarem acontecendo com você, que é hiperbolizada pela figura do peixe, Blue My Mind também fala sobre aceitação: aceitar quem você é e se assumir dessa forma. O fantástico do filme é metafórico, sobre uma garota tentando se encaixar em padrões – como, por exemplo, ter o corpo ideal (não uma cauda!) ou perder a virgindade para se adequar ao grupo.
Ninguém nunca passou pela situação de Mia, mas com certeza irá se identificar com ela. Todos temos as nossas escamas que nos obrigam a esconder.
Por Gabriel Fabri
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