Indústria Americana – Crítica
Indicado ao Oscar 2020, documentário da Netflix “Indústria Americana” mergulha na mentalidade do americano de baixa renda
Os motivos que levaram o magnata Donald Trump à Presidência são muitos e não são simples de diagnosticar. Para além de seu poder econômico e midiático, sua personalidade “debochada” e politicamente incorreta e os preconceitos enraizados na sociedade norte-americana, a insatisfação contida na frase “Fazer a América Grande De Novo” ecoa no documentário Indústria Americana, produção da Netflix que concorre ao Oscar de Melhor Documentário junto com o brasileiro Democracia em Vertigem, também do serviço de streaming.
Dirigido por Julia Reichert e Steven Bognar, o filme retrata o dia a dia de uma fábrica de vidros chinesa em Ohio, nos Estados Unidos, captando desde a euforia com a abertura da fábrica, instalada em uma antiga indústria da General Motors (que fechou as portas com a crise em 2008), até o choque cultural entre China e EUA.
O documentário é simples e demora para engrenar, por focar demais na euforia com a abertura da nova fábrica – trata-se, por um lado, da esperança de um novo tempo de parcerias entre os dois países; por outro, do alívio dos moradores da região em finalmente conseguir um emprego.
Aos poucos, entretanto, Indústria Americana vai se tornando cada vez mais incômodo, ao mostrar as insatisfações dos funcionários, que trabalham mais, ganham muito menos, e são sempre coagidos a não se sindicalizar. Os chineses, por outro lado, consideram os direitos trabalhistas absurdos (na China, o cenário é bem diferente e soa como um regime de escravidão) e, em determinado momento, convidam a equipe a conhecer as bizarras fábricas chinesas.
Nos personagens estadunidenses, ecoa a sensação de que no passado ser um trabalhador braçal em uma fábrica era melhor. Por esse mergulho na mentalidade do americano pobre, não é difícil entender porque Indústria Americana ganhou destaque no Oscar: é um mergulho sobre a rotina e precariedade dessa parcela mais pobre dos EUA, que muito provavelmente votou em Trump sonhando com condições de vida que uma vez tiveram. O sonho americano, afinal, não pode morrer.
Por Gabriel Fabri
Confira o trailer de Indústria Americana:
https://www.youtube.com/watch?v=5sFFttgfljU
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