Dinheiro Fácil (47ª Mostra Internacional de Cinema)
Dinheiro fácil, com Seth Rogen e Shailene Woodley, peca ao romantizar demais um episódio delicado da história financeira recente; filme integra a 47ª Mostra internacional de Cinema de São Paulo
Tentando repetir o sucesso de A Grande Aposta, comédia que tentou, com muito humor e ironia, explicar a crise financeira de 2008 e o mercado de capitais, Dinheiro Fácil, de Craig Gillespie (Eu, Tonya), retrata um caso bem recente e fresco na memória de quem acompanha o mercado financeiro: o movimento que pegou uma ação de uma empresa obsoleta, a loja de jogos Game Stop, e elevou a sua cotação às alturas, provocando falência de fundos de investimento que apostavam na queda do ativo.
A trama enfoca Keith Gill (Paul Dano), um jovem comum e fã de videogame, que fazia lives e comentários sobre o mercado financeiro em fóruns online e nas redes sociais. Como um cinéfilo apaixonado pela Blockbuster, Gill acreditava que as ações da loja Game Stop estavam desvalorizadas apenas por medo do streaming e dos jogos online, e começou a apostar em sua alta na bolsa de valores, colocando todas as suas economias no ativo em questão. Apesar de “estratégia” de sucesso improvável, Keith conquistou seus seguidores e gerou um movimento de compra que desestabilizou o mercado financeiro.
Com elenco estrelar que conta com Seth Rogen e Shailene Woodley, Dinheiro Fácil sustenta a atenção do público, apesar dos termos complicados e da previsibilidade da história (um caso altamente noticiado e recente), o que é um ponto positivo do roteiro. A trama poderia ficar mais fácil para o público se houvessem, por exemplo, as interrupções irônicas para explicar termos do mercado que encontramos em A Grande Aposta ou algo do tipo, mas, apesar do público ouvir o filme inteiro sobre opções de call sem saber muito bem como funciona, o básico é compreensível: grandes fundos estavam apostando na queda do ativo e perderam muito com a valorização das ações.
O pecado de Dinheiro Fácil é, talvez, romantizar demais o movimento, deixando de lado o fato de que muitos investidores pessoa física também perderam dinheiro, comprando quando o ativo estava em alta, e criando uma narrativa meio fantasiosa de “Luta de classes”, como uma grande vitória anticapitalista. Fica a anedota e a curiosidade de como nerds da internet driblaram o complexo mercado financeiro, sim, além do alerta para essa fragilidade e manipulação do sistema, mas o filme não vai tão a fundo nas questões que se propõe e pode acabar deixando uma sensação de que o dinheiro pode ser fácil, sim.
Por Gabriel Fabri (@_gabrielfabri)
Jornalista, especializou-se em Cinema, Vídeo e TV pelo Centro Universitário Belas Artes. Colaborou com Revista Preview, Revista Fórum, Em Cartaz e com o livro O Melhor do Terror dos Anos 90 (Editora Skript). É autor de Fora do Comum – Os Melhores Filmes Estranhos e O Pato – Uma Distopia à Brasileira.
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