Missão: Impossível – O Acerto Final
Tom Cruise encerra em “Missão: Impossível – O Acerto Final” a franquia de espionagem com alerta sobre Inteligência Artificial
Quando a série original de 1966 criada por Bruce Geller foi produzida, a Guerra Fria ditava como inimigo os espiões da União Soviética. Esse é um padrão que ainda ecoa em filmes do gênero de espionagem, que ainda trabalha com dicotomias parecidas, como Ocidente x Oriente, embora a modernidade tenha trazido uma nova variedade de vilões, agentes duplos e mercenários para os novos exemplares do gênero. Mas o filme de espionagem não envelheceu, e prova disso é a franquia estrelada por Tom Cruise e que ganha o oitavo e derradeiro capítulo em Missão: Impossível – O Acerto Final, mantendo o nível de excelência, tensão e megalomania dos longas-metragens anteriores.
Iniciada em 1996, trinta anos após o lançamento da série de TV, Missão: Impossível deu o pontapé inicial com Brian de Palma (Vestida Para Matar), em uma obra já considerada um dos grandes clássicos do cinema de ação. Foi com J.J. Abrams, o criador de Alias, série sobre uma agente dupla interpretada por Jennifer Garner, que a franquia chegou ao terceiro capítulo em 2006 com um novo gás. Aos poucos, Tom Cruise igualou o seu Ethan Hunt ao patamar de James Bond – mas, enquanto os filmes de 007 assumiram um ar mais sério e perturbado com o Bond de Daniel Craig, Missão: Impossível se propôs a fazer jus a seu nome, focando em ser um entretenimento espetacular, no sentido intrínseco da palavra, e mirabolante. Com o diretor Christopher McQuarrie a partir do quinto episódio, vale a pena ressaltar, Tom Cruise parece ter ainda mais liberdade de explorar, a cada filme, um desafio diferente para si como ator, acumulando uma sequência impressionante de loucuras sem dublê que poucos ousariam tentar imitar.
Em Missão: Impossível – O Acerto Final, o público é impactado pela humanidade a beira da extinção. O inimigo, entretanto, não é mais o soviético da guerra fria, não são os terroristas do Oriente Médio, nem sequer as outras grandes potências geopolíticas (Rússia e China), não dessa vez. A Entidade, como é conhecida, é uma inteligência artificial que aprendeu tanto sobre a humanidade que ameaça controlar ela, se apossando dos arsenais nucleares, manipulando informações, criando fake news e novas verdades fabricadas. O filme é um apelo: o mundo será destruído pelo fim da era da informação.
“Você está passando muito tempo na internet”, ironiza Hunt (Cruise), durante uma briga corporal com um discípulo da Entidade. A piada sintetiza bem o maior alerta do filme, a era da pós-verdade e da desinformação, potencializada pelas redes sociais, e a formação de grupos fanáticos de extrema direita. E, agora, com um poder e relevância crescente às tecnologias de Inteligência Artificial. A tamanha aderência desse cenário apocalíptico com a realidade atual torna o inimigo de Missão: Impossível – O Acerto Final o mais assustador da franquia – como se o colapso do mundo estivesse iminente em uma rebelião das máquinas, mas não da forma como se imaginou no passado com O Exterminador do Futuro, por exemplo.
Para além de todo o subtexto político, que inclui a firmeza de uma mulher negra na presidência dos EUA frente aos generais brancos, Missão: Impossível – O Acerto Final entrega o que o público quer: um espetáculo alucinante como se espera para a tela grande. As quase três horas de projeção passam em ritmo alucinado com diversas reviravoltas, com destaque para a cena em que Tom Cruise se pendura na asa de um avião, o ponto alto de tensão no filme. Não recomendado para quem tem medo de altura.
Por Gabriel Fabri (@_gabrielfabri)
Jornalista, especializou-se em Cinema, Vídeo e TV pelo Centro Universitário Belas Artes. Colaborou com Revista Preview, Revista Fórum, Em Cartaz e com o livro O Melhor do Terror dos Anos 90 (Editora Skript). É autor de Fora do Comum – Os Melhores Filmes Estranhos e O Pato – Uma Distopia à Brasileira.
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