Moonlight – Sob A Luz do Luar
Quando vemos um filme com protagonistas negros, o tema importante do racismo sempre vem à tona. É raro encontrar então um longa-metragem como Moonlight – Sob A Luz do Luar (Moonlight), que joga luz em outros assuntos para além da questão racial. Dirigido por Barry Jenkins, o filme fala de outro tipo de preconceito, a homofobia, mas ela também não é o foco. E, sim, a autodescoberta, a atração sexual e o amor – mesmo que em meio à pobreza, ao tráfico ou ao ambiente de bullying escolar.
A história acompanha o crescimento de Chiron (interpretado por Trevante Rhodes, Ashton Sanders e Alex R. Hibbert), desde quando era criança e conheceu um traficante, ao fugir dos garotos da escola que lhe batiam, até a idade adulta. Apelidado de Little e depois de Black, o garoto sofria bullying por ser diferente dos “valentões” da turma, que o chamavam de “bicha” – isso muito antes de ele descobrir que sentia atração pelo mesmo sexo. Em casa, ele não tinha apoio da mãe, que se prostituía para comprar pedras de crack. A relação do garoto com o traficante que o acolhe, Juan (Mahershala Ali, da série House of Cards), é a sua primeira relação de amizade.
Moonlight discute bullying e a descoberta da homossexualidade de forma simples. O enredo não é muito elaborado, algumas situações são clichês, mas o filme é eficiente na narração dessa história. Da sua simplicidade, ou melhor, das suas delicadezas, vem a sua força. É o amor sendo descoberto, experimentado, em um ambiente de marginalização e de violência, mas em nenhum momento esses temas, que sempre são tratados quando se fala de protagonistas negros, se sobrepõem ao principal, que são as emoções e o crescimento de Chiron. A vitimização em torno desse personagem é pequeno comparado à magnitude do que ele é – de forma que o melodrama utilizado aqui não seja tão carregado. Ele é vítima, afinal, de idiotas que o vêem como diferente, e qualquer pessoa pode se identificar com isso. Não há um exagero nessa relação, embora a infância de Chiron seja marcado por um vilão específico, que é bastante estereotipado como o “bullie”, ressaltando certo maniqueísmo sim, o que ajuda no envolvimento com o personagem.
Com um belo final, Moonlight vem para valorizar o negro, valorizar o gay, valorizar o negro que é gay. Retrata, de maneira leve, o sofrimento com o preconceito, a questão da autoaceitação, a vida em um lar que não é o subúrbio acolhedor dos lares brancos hollywoodianos, e usa sutilmente o melodrama a seu favor. Um ano depois do protesto Oscar So White, Moonlight deve ser destaque na premiação desse ano: e faz por merecer.
Por Gabriel Fabri