A Espera
Assistente de direção de Paolo Sorrentino em A Grande Beleza, o italiano Piero Messina reuniu para o seu primeiro longa-metragem duas das maiores atrizes francesas da atualidade: Juliette Binoche (Acima das Nuvens) e Lou de Laâge (Agnus Dei). As duas estrelam juntas A Espera (L’attesa), filme exibido no Festival de Veneza e inspirado em duas peças de Luigi Pirandello, “La vita che ti diedi” e “La camera in attesa”.
Na trama, Jeanne (Laâge) viaja ao interior da Sicília para se reencontrar com o namorado, o qual não vê pessoalmente há pelo menos um mês. Chegando lá, encontra apenas a mãe dele, Anna (Binoche). De luto, supostamente pela perda de um irmão, a mulher a informa que o filho só deve voltar para cidade nas comemorações da Páscoa (nas quais, em algumas regiões da Itália, as pessoas se vestem com capuzes que lembram os da Ku Klux Klan, uma marcha que remete ao luto de Jesus e à Peregrinação da Virgem Maria). Juntas, as duas começam a se conhecer, enquanto o homem não reaparece.
Está óbvio para o público, desde o encontro das duas protagonistas, que Anna está mentindo a respeito do paradeiro do filho. Aos poucos, o filme vai sugerindo o que aconteceu com ele, enquanto o roteiro habilmente deixa o público apreensivo ao ver a ansiedade de Jeanne, que, ingênua, acredita no retorno (e no perdão) do amado.
A Espera pela sinopse pode parecer algo na linha de Esperando Godot, de Beckett. Entretanto, uma das personagens aqui sabe que a sua espera será infinita e ainda tem que conviver com a mentira que alimenta os sonhos da outra. Mas essa é a forma que Anna encontrou de superar o seu luto. Se a princípio a ideia era cobrir os espelhos e fechar as cortinas, Anna reconstrói um mundo de fantasia em que o seu filho ainda está presente, em que a sua esperança, em suma, não está morta. Assim, desenvolve uma relação com a garota de amizade, mas que tem uma data de validade. Como ela vai ou deve agir quando o homem, inevitavelmente, não retornar?
Por Gabriel Fabri