A Autópsia
O necrotério parece ser o lugar perfeito para filmes de terror. Mas talvez por não ser um ambiente de fácil acesso, não é muito retratado nesse gênero. Misturando horror e investigação criminal, o suspense A Autópsia (The Autopsy of Jane Doe) comete alguns erros facilmente evitáveis, entretanto consegue criar uma boa atmosfera de terror e manter o público vidrado na sua história.
A trama é simples: pai e filho trabalham em um necrotério e recebem o corpo, em uma noite chuvosa, de uma bela jovem. Sem nenhum arranhão, ela foi encontrada enterrada no porão de uma casa aonde três pessoas morreram (dois assassinatos e um suicídio?) e enviada para a autópsia. Mas aquele não é um cadáver comum.
O ponto alto do filme é a dissecação desse corpo. Pode parecer algo enfadonho, mas o diretor André Øvredal consegue tornar tudo muito interessante, como se fosse uma boneca russa, a cada camada uma nova surpresa. A interação entre os dois personagens, surpresos com o que encontram, bastante didática, funciona, e o filme consegue ganhar o espectador e criar um mistério.
O problema é quando o filme, ao mudar a chave do policial para o horror, resolve forçar a mão para resolver a história. Primeiro, a namorada do garoto, que se mostra de utilidade nenhuma para a trama – uma personagem introduzida que o roteiro não soube trabalhar; depois, a demora dos protagonistas em descobrir porque aquele cadáver é especial (a justificativa seria a primeira coisa que se passa na cabeça de qualquer pessoa diante de uma situação próxima do sobrenatural); no outro extremo, a rapidez com que eles resolvem o mistério (isso não é um spoiler, o personagem simplesmente do nada inventa uma versão / explicação dos fatos que o filme não contesta).
A Autópsia não é um filme ruim, mas parece se encaminhar para ser um grande filme de horror, e no final das contas, não é.
Por Gabriel Fabri