Coisa Mais Linda – Crítica
Onde houver seres humanos, haverá uma boa história, porém, se tal história se passar no Rio de Janeiro do final dos anos 1950, fica mais interessante. É esse o cenário da novidade da Netflix, Coisa Mais Linda.
Por se tratar de uma série de época, imaginamos um trabalho primoroso, principalmente nas áreas de direção de arte e figurino. O resultado é de encher os olhos e vai muito além de uma mera reconstrução época, mas nos mergulha naquele universo e nos faz ter vontade de estar ali. Porém é graças às quatro personagens centrais e às atrizes que lhes dão vida que a obra triunfa.
O seriado gira em torno de um quarteto de mulheres, porém o que move a trama são as ações de Malu, uma jovem da elite paulistana que decide abrir um clube de música após ser abandonada pelo marido. Meio mimada e com surtos de auto piedade, ainda sim somos cativados por ela, graças à maneira crível com que é tratada pelo roteiro, o que nos permite identificações, e também a entrega de Maria Casadevall, que dá vida a personagem.
Completam o quarteto a jornalista Thereza (Mel Lisboa); a socialite que sonha em ser cantora Lígia (Fernanda Vasconcellos) e a empregada doméstica Adélia (Pathy Dejesus), personagem importante, que se contrapõe as outras três, oriundas das altas classes, e nos mostra que enquanto umas lutam pelo direito de trabalhar, outras trabalham desde oito anos de idade. Ainda sim, somos lembrados diversas vezes que até mesmo os privilégios de classe não protegem aquelas mulheres, vítimas do machismo e do moralismo que impregnam a alta sociedade carioca.
Com exceção do músico Capitão (Ícaro Silva), os homens da série são apresentados de maneira caricata, o que não incomoda já que eles estão em segundo plano, para intensificar os conflitos das vidas daquelas quatro mulheres.
Em alguns momentos podemos achar que o programa da Netflix tem um ar de novela, devido a ações repetidas dos personagens que nos dão impressão de que a trama não avança. Porém após uma análise mais cuidadosa, entenderemos que isso nada mais do que a preocupação do roteiro em mostrar a evolução lenta daquelas pessoas, apresentando uma jornada mais realista.
Um momento em que a série deixa desejar é nas apresentações musicais. Diversas vezes temos a sensação de que elas não têm a força que deveriam, ainda mais por se tratar de uma obra que tem a música como um dos seus temas centrais. Ainda assim, tal deslize não chega nem perto de comprometer os atributos da série.
A temporada é curta, com apenas sete episódios, e se encerra de maneira inesperada, mudando o tom que havia se construído até então. Tal reviravolta certamente tem duas funções: prender o público para a próxima temporada, e também mostrar que apesar da luta, aquelas mulheres ainda não se libertaram das velhas amarras.
Por Caio Ramos Shimizu
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