O Escândalo – Sexo e Poder nos Bastidores da Televisão
Com três indicações ao Oscar, O Escândalo traz Charlize Theron e Margot Robbie em retrato dos bastidores da televisão
Não são poucos os filmes que retrataram os bastidores, muitas vezes sórdidos, das emissoras de televisão, e já era aguardado algum longa-metragem que mostrasse a reviravolta que atingiu a indústria do entretenimento dos Estados Unidos, a partir de 2016, quando muitas mulheres começaram a denunciar o assédio e o abuso sexuais, e a se manifestar na internet, através de campanhas como o #metoo. Esse filme é O Escândalo.
Com três indicações ao Oscar 2020 (atriz – Charlize Theron; atriz coadjuvante – Margot Robbie; e maquiagem e cabelo) o longa-metragem chega nesta quinta-feira, 16 de janeiro, aos cinemas. O filme retrata o escândalo sexual envolvendo Roger Ailes (muito bem interpretado por John Litgow), CEO da Fox News, uma das mais conservadoras emissoras de televisão dos Estados Unidos e ligada a eleição do atual presidente, Donald Trump.
O resultado, porém, está muito abaixo do que se poderia esperar, muito em função do que se denomina “lugar de fala”. A direção de Jay Roach e o roteiro de Charles Randolph parecem não ter dado conta da profundidade com que o assunto merece ser tratado. Apesar de uma edição ágil, que se vale do recurso da narração (eterna “bengala” de muitos filmes), e da fantástica caracterização das atrizes (não à toa foi indicado ao Oscar de melhor maquiagem e cabelo), o resultado pode até confundir alguns espectadores. É notável observar que, na Fox News, privilegia-se as loiras. Portanto, há pouquíssimas atrizes de cabelo escuro e, salvo engano, não há negras nem descendentes de asiáticos.
O Escândalo adota três pontos de vista diferentes. O primeiro deles é o da apresentadora Meggy Kelly (Charlize Theron, merecedora da indicação ao prêmio), que se envolve numa quente discussão, via televisão e redes sociais, com o então candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido republicano. O segundo é o da veterana Gretchen Carlson (Nicole Kidman, sem o mesmo brilho de trabalhos do passado), que, após ser demitida, resolve processar Alies e suas práticas nada corretas (como a de exigir que as câmeras dos telejornais dessem mais enfoque nas pernas das apresentadoras do que no que elas diziam, e a de praticar o famigerado “teste do sofá”). E o terceiro da fictícia Kayla Pospisil (Margot Robbie, no até agora grande papel da carreira), que chega do interior com valores conservadores e religiosos, mas que sonha em subir na emissora, mesmo que precise frequentar a sala do CEO, no segundo andar do prédio.
Uma das sequências mais complicadas de O Escândalo, justamente pela falta de reação e de profundidade, é quando Keyla se submete a situação vexatória na sala do chefe de ter que desfilar diante dele e erguer o vestido até que ele consiga visualizar a calcinha. Também não se atinge o esperado quando ela questiona o fato de as colegas terem se calado durante tanto tempo a respeito da postura adotada por Alles. Afinal, o silêncio das mulheres abusadas permite que os homens se sintam autorizados a seguir com a mesma postura. Porém, termina-se com a nítida sensação de que filmes realmente consistentes ainda precisam ser realizados para tratar de um tema tão importante.
Por Guilherme Bryan
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Assista ao trailer de O Escândalo abaixo: