Nocaute
Filmes sobre boxe costumam render performances “oscarizáveis” e bons dramas. Vide os premiados Menina de Ouro e Foxcatcher, longas-metragens de altíssimo nível, em todos os sentidos. Dirigido por Antoine Fuqua (Dia de Treinamento), Nocaute não tem uma trama lá tão criativa, mas pode figurar facilmente no hall dos grandes filmes que tem como pano de fundo esse violento esporte.
O mérito de Fuqua é que desde a primeira cena até o terceiro ato do filme, Nocaute prende a atenção com muita facilidade. O grande Billy Hope (Jake Gyllenhaal, de O Abutre), campeão invicto, ameaça amargar a sua primeira derrota, em um conflito violento no ringue. A narração do comentarista e os olhares aflitos de sua esposa Maureen (Rachel McAdams) contribuem com o suspense e, logo na primeira cena, o público está ganho, pois, além da sequência ser emocionante, fica claro que daquele momento em diante o personagem irá ladeira abaixo. E isso não tarda a acontecer. Fora do ringue, Hope é nocauteado sem dó pelos acontecimentos da vida.
O sobrenome do protagonista, Hope, quer dizer em português “esperança”. Não é a toa que temos aqui uma história em que o personagem chega ao fundo do poço e tenta dar a volta por cima. Se a esperança é a última que morre, essa é a essência do filme. O arco narrativo mostra a destruição rápida do boxeador, e a sua lenta recuperação – ou, tentativa de.
Com atuação excelente de Gyllenhaal, e o bom reforço da atriz Clare Foley, no papel de sua filha, o filme acerta a mão e convence, trabalhando bem a história e os personagens. A melhor cena do longa-metragem é, justamente, uma briga entre os dois – alias, a tentativa de reconquistar a filha é o que torna Billy um personagem tão carismático diante do público. Um filme sobre família, portanto. A falsa família, representada pelo personagem do 50 Cent, e a família real, aquela que vale a pena lutar.
Não há nada muito de inovador nessa trama, principalmente ao colocar como clímax uma luta (a do início foi muito mais emocionante, embora a atuação de Foley nessa cena, assistindo a luta, dê um tempero a mais), mas Nocaute impressiona. Poderia também ter trabalhado melhor a questão da vingança, que fica em segundo plano, mas nada que atrapalhe o filme.
| Gabriel Fabri