Anora (48ª Mostra Internacional de Cinema)
Diretor de Projeto Flórida e Tangerine, Sean S. Baker conquistou a Palma de Ouro do Festival de Cannes com mais uma história sobre marginalizados. Em Anora, a personagem título, interpretada por Mikey Madison, é uma stripper que se envolve emocionalmente com um cliente, um milionário russo, Ivan (Mark Eidelstein). O longa-metragem faz sua estreia no Brasil na 48ª Mostra Internacional de Cinema.
O longa-metragem começa de um lugar comum, mas passa por uma reviravolta inesperada no segundo ato. O drama de uma dançarina que é seduzida pela vida fácil de um cliente rico caminhava para uma situação de apuros e violência – seria o tal Ivan apenas um herdeiro mimado? Dificilmente, mas Anora parece ingênua o suficiente para acreditar que sim, e ainda que ele realmente a ama. O público, por outro lado, não tem a mesma ingenuidade, e o desastre era certeiro.
Mas Baker não está interessado no óbvio, no lugar comum, e Anora muda completamente o tom: o que caminhava para um filme sobre abusos e violência se transforma em uma inesperada comédia quando os capangas dos pais de Ivan chegam e, ao invés de se mostrarem como perigosos mafiosos, revelam-se homens fracos, covardes, medrosos e ansiosos.
Com uma mulher forte liderando a história, Anora se transforma em uma comédia sobre a masculinidade frágil, tanto do jovem Ivan quanto dos capangas. É também uma sátira do mundo dos ricos, em um segundo plano, e uma jornada de libertação da personagem. Apesar do humor, também é uma história dura com a sua protagonista que, saindo de uma vida difícil, descobre que seu conto de fadas não era nada além de uma armadilha. Enfim, um filme inesperadamente divertido, sem perder a seriedade de seu tema ou diminuir o sofrimento da sua protagonista.
Por Gabriel Fabri (@_gabrielfabri)
Jornalista, especializou-se em Cinema, Vídeo e TV pelo Centro Universitário Belas Artes. Colaborou com Revista Preview, Revista Fórum, Em Cartaz e com o livro O Melhor do Terror dos Anos 90 (Editora Skript). É autor de Fora do Comum – Os Melhores Filmes Estranhos e O Pato – Uma Distopia à Brasileira.
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