O Abraço da Serpente

Baseado nos relatos do etnologista alemão Theodor Koch-Grunberg (1872 – 1924) e do cientista botânico Richard Evan Schultes (1915-2001), o longa-metragem colombiano O Abraço da Serpente intercala essas duas histórias de expedições na Floresta Amazônica para discutir a relação conflituosa entre o homem branco e o indígena. Ganhador do prêmio da Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, onde foi aplaudido por dez minutos ao final da sessão, o filme de Ciro Guerra é o único representante latino-americano na categoria de língua estrangeira no Oscar 2016.

Filmado todo em preto e branco, a obra tem uma bela fotografia – as paisagens da Amazônia ganham um tom mais belo e ao mesmo tempo mais sombrio do que o verde da mata. Falando em aspectos técnicos, vale destacar um momento em que o diretor faz um interessante movimento de câmera transitando, em uma mesma sequência (sem cortes), de uma história para outra – separadas pelo tempo, as expedições de Koch-Grunberg e Schultes pouco diferem entre si, afinal. Trata-se da mesma história de admiração pela cultura indígena e, ao mesmo tempo, de exploração e destruição dela.

O filme tem como ponto positivo dar voz aos índios, registrando aspectos de seus costumes e suas crenças. É uma experiência de resgate, rica de detalhes e faz o público perceber o quanto coisas banais para nós hoje (e nas épocas das explorações) são importantes para os indígenas – o inverso também é válido. Entretanto, o longa-metragem peca pelo seu ritmo arrastado: o enredo é simples e não empolga nada e o tempo do filme é longo, de contemplação. Não é para qualquer paladar.

Há dois momentos realmente interessantes no filme: quando Koch-Grunberg visita uma missão católica e o indígena que o acompanha é comparado ao diabo pelo jesuíta – mostrando um total desprezo e ignorância com a cultura dos povos latino-americanos; e quando Schultes chega ao mesmo local, anos depois: ele encontra ali um “Jesus” brasileiro, um falso messias, com guardas encapuzados que lembram, estranhamente, a Ku Klux Klan, grupo racista dos EUA.

Após esses dois momentos, O Abraço da Serpente volta a ser insosso, até culminar em um desfecho decepcionante, difícil de compreender. Nesse caso, até abre mão do preto e branco sem motivo, e deixa uma interrogação – que não resulta em uma provocação – no rosto do espectador. Fica a sensação de que a história, mesmo baseada em fatos reais, merecia um final melhor – e talvez um filme que tentasse se aproximar mais do espectador.

| Gabriel Fabri

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