Uma Longa Viagem
Por Gabriel Fabri
O início de “Uma Longa Viagem” constrói, em pouco tempo, uma agradável história de amor. Um homem solitário contando como conheceu a sua amada no trem, em uma conversa bastante simples e que logo desemboca no flerte. O casal vivido por Colin Firth e Nicole Kidman, nos papéis de Eric Lomax e Patricia, tem química e convence logo de cara. Mas, não, o filme dirigido por Jonathan Teplitzky não é um novo “Antes do Amanhecer”, e sim uma obra sobre a guerra e os traumas de dois homens, em lados opostos.
Logo após o casamento do casal principal, Patricia percebe que Eric é um homem perturbado pelo seu passado. Para ajudá-lo, conversa com um amigo dele, Finlay (Stellan Skarsgård, de “Ninfomaníaca”), que serviu com ele no exército britânico, durante a II Guerra, e foi feito prisioneiro dos japoneses junto com Lomax. O homem, após breve relutância, conta a história do ex-soldado para a esposa.
Baseado no livro escrito por Eric Lomax, falecido em 2012, o filme constrói bem o paralelo entre o passado e o presente do personagem principal, alternando os flashbacks com o relacionamento dele com a personagem de Kidman. O ápice dessa montagem é o clímax apreensivo, que intercala dois interrogatórios. A direção, que usa frequentemente de planos bem abertos, imprime força às imagens, embora exagere um pouco em pelo menos um momento: em uma cena em que Eric apanha de um soldado japonês, a trilha sonora escolhida é um canto de igreja, tentando intensificar a ideia de sacrifício, que já estava explícita.
“Uma Longa Viagem” fala, sobretudo, sobre amizade. Mas é interessante notar alguns detalhes, como a fixação do protagonista pelas estradas de ferro. Entender o porquê desse fascínio se perpetuar depois dos fatos ocorridos na guerra pode ser tão intrigante quanto o filme, que apesar de ter uma história que parece um tanto batida, resulta em uma bela obra, que pode até deixar alguns olhos mareados.