Eu, Tonya – Crítica
O mote de filmes de Hollywood baseados em histórias reais, principalmente envolvendo atletas, é o da superação. Essas histórias inspiradoras rendem lágrimas e bons filmes, deixando o espectador esperançoso e com um sorriso no rosto. Entretanto, esse não é o caso de Eu, Tonya, de Craig Gillespie, sobre uma patinadora que tinha tudo para ter uma carreira incrível, mas que se tornou a patinadora mais famosa do mundo por outros motivos.
Margot Robbie (de Esquadrão Suicida) brilha na pele de Tonya Harding, cheia de atitude e personalidade. Desde os três anos, ela patina para ser campeã olímpica. Com o “apoio” da mãe LaVona (Allison Janney), uma mulher cujo método para encorajar a menina sempre foi desmerecê-la, e, futuramente, recebendo porradas do namorado Jeff (Sebastian Stan), Tonya se tornou a primeira mulher a conseguir realizar um salto muito difícil na patinação. Entretanto, sua carreira ficou para sempre marcada por um “incidente”, no qual a sua concorrente teve o joelho quebrado.
Vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante em um filme de comédia, Allison Janney imprime grande comicidade à sua personagem. Como todos os coadjuvantes do filme, LaVona é caricata na medida certa – o grande acerto aqui é tratar todos ao redor de Tonya com as suas esquisitices exacerbadas, o que traz ironia e humor à trama de fracasso da patinadora, além de colocá-la em um pedestal acima dos outros personagens.
O roteiro retrata Tonya como uma vítima das pessoas presentes em sua vida, embora não a exima de culpa por, por exemplo, deixar-se contaminar pela relação com um cara violento e medíocre como Jeff – quando Tonya diz para a câmera que certas coisas não são sua culpa, ela diz de uma maneira que mostra que ela não acredita mais nisso. Uma das cenas mais marcantes nesse sentido é quando a mãe diz para ela: “Foder um idiota, tudo bem, mas não se casa com eles”. Mas se Tonya não pode se eximir de culpa com relação às suas escolhas, fica claro o quanto que ela foi vítima das pessoas ao redor e se culpava por isso, uma história que muitas mulheres engolidas por relacionamentos abusivos vão se identificar. Quantos talentos como os de Tonya foram reprimidos por mães ou pais que não as encorajavam, por maridos que as agrediam?
Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Comédia ou Musical, Eu, Tonya é um drama repleto de ironias que nos fazem refletir sobre os obstáculos que se colocam no caminho para o sucesso – e como algumas pessoas no caminho podem literalmente estragar tudo. Não é um filme sobre trabalhar duro e realizar seus sonhos, mas sobre trabalhar duro e não realizá-los. É difícil acreditar que todas as pessoas ao redor de Tonya tenham sido tão idiotas quanto a maneira retratada, e fica a dúvida se as coisas aconteceram dessa forma. Mas essa é a beleza do filme, que escolhe por mostrar como Tonya era uma mulher forte, valorizando a sua visão da história, e colocando temas espinhosos como violência doméstica na mesa para discussão.
Por Gabriel Fabri
Confira o trailer de Eu, Tonya clicando aqui.