Não Me Toque (42ª Mostra Internacional de Cinema)
Vencedor do Urso de Ouro e do Prêmio de Melhor Primeiro Filme no Festival de Berlim, o romeno Não Me Toque, de Adina Pintilie, é, por conta de sua repercussão internacional, um dos filmes mais aguardados da 42ª Mostra Internacional de Cinema. Estranho e experimental, o longa-metragem discute a sexualidade de maneira dessexualizada.
O filme conta a história de Laura (Laura Benson), uma diretora de cinema que, aos 50 anos, resolve fazer uma espécie de documentário experimental sobre a sexualidade humana. Logo, Não Me Toque funciona como um estudo ou experiência sobre a sexualidade de diferentes corpos e pessoas: entre eles, um cross-dresser que se exibe na internet e um homem com deficiência contam para Laura e para as câmeras como enxergam os seus corpos, a sua libido e o sexo em si.
A ideia é remover o corpo e o sexo fora do campo da excitação e do prazer e, assim, ter um olhar mais “clínico” sobre essas áreas. Intercalando depoimentos e experiências, sexuais ou sensoriais, o filme mostra uma sexualidade “des-sensualizada”, em suma. Predomina as cores brancas, como se o filme fosse um grande laboratório, e talvez a coisa mais animada do longa-metragem seja a música que repete o refrão “mela, mela, melancolia”. Irônico.
Discutindo beleza e padrões, o filme parece apostar em um esforço do olhar para o outro, de compreender diversas sexualidades fora das normas. Colocar uma pessoa com deficiência para falar não sobre a sua deficiência mas sobre os seus desejos sexuais e o próprio pênis, por exemplo, pode ser o que levou o filme a ser tão celebrado em Berlim. Mas a obra está longe de ser uma celebração da sexualidade e dos corpos – a frieza, o olhar distante, a mise-en-scene branca e sem vida e o próprio vazio sentido pela protagonista não deixam, e os depoimentos e experimentos podem cansar o público com rapidez.
Por Gabriel Fabri
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