Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw – Crítica
Na contramão da maioria das franquias do cinema, que tendem a perder o gás após muitas continuações, Velozes e Furiosos foi no caminho oposto: renasceu após o quarto o filme e foi fazendo mais bonito, até o ápice no sétimo e uma boa continuação no oitavo. É natural que o estúdio começasse a pensar em filmes derivados, portanto. Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw é a primeira tentativa.
Com direção de David Leitch, de Deadpool 2, o filme foca em dois personagens da franquia: o carismático Luke Hobbs (Dwayne Johnson) e o sério Deckard Shaw (Jason Statham). Os dois são escalados para trabalharem juntos em uma mesma missão, com o pequeno detalhe de que eles se odeiam. O trabalho é localizar Hattie (Vanessa Kirby), uma agente do MI-6 que injetou um vírus em seu corpo, e evitar que os bandidos cheguem nela primeiro.
Apostando no óbvio, piadinhas e perseguições,Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw se limita ao entretenimento passageiro sem provocar muita empolgação. Entretanto, tem o seu mérito em uma crítica que cutuca pilares do gênero: a ultravalorização da força e da tecnologia.
A presença de Hattie, a dose de girl power do filme, prova que os músculos do The Rock, como é conhecido Dwayne Johnson, não são a única força que existe – os dois, em cena, fazem piadinha com isso, inclusive. Mas isso seria um mero detalhe se toda a construção da mentalidade do vilão não fosse uma hipérbole dessa noção de que músculos é igual à força, masculinidade ou qualquer outro senso comum. Em seu esforço para ficar “monstro”, Brixton (Idris Elba) perdeu sua humanidade e acredita que pode brincar de Darwin e colocar na prática, por meio da tecnologia, a teoria de que os mais fortes sobrevivem.
O vilão funciona como uma hipérbole negativa, portanto, do culto à masculinidade, aos músculos e ao “alfa” que tanto marcou a franquia. Soma ao elemento girl power e ao fato de que Hobbs and Shaw, mais do que como “brothers”, comportam-se como duas crianças aqui e acolá – uma óbvia brincadeira com a noção de “alfa”. É Hattie que dá a razão, muitas vezes.
Humanos como máquinas para matar, vírus dizimado, nada de novo no front. Mas o clímax tenta inovar e acaba dando mais força à essa crítica ao propor um retorno a um passado mais “primitivo”, onde o homem combate o outro com fogo e peças de madeira. Claro que não demora para voltarem as explosões, as perseguições, os veículos potentes, os tiros sendo disparados, mas esse retorno ao que é natural, um retorno à família e à natureza, traz uma potência a mais para o filme, reforçando a crítica a essa suposta masculinidade. Crítica que, muito provavelmente, é involuntária. Afinal, é contraditório queVelozes & Furiosos: Hobbs e Shaw , além de brincar com esteriótipos, também não deixe de reforçar essas noções no momento em que Hobbs tira a camisa e parte para o ataque, como um verdadeiro homem das cavernas.
Por Gabriel Fabri
Confira o trailer de Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw abaixo:
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