Os Miseráveis
Em determinado momento de Os Miseráveis (Les Miserables), não muito depois do seu início, a câmera para e observa estática Fantine (Anne Hathaway), em seu canto direito. A atriz encara as lentes e começa a cantar a bela canção I Dreamed A Dream. O mais longo close-up do filme pode ser capaz de derreter corações de pedra e é, definitivamente, o melhor momento da atriz em toda sua carreira: cantando (e atuando) por mais de três minutos sem um único movimento de câmara, de frente a ela, Hathaway hipnotiza e emociona. Uma cena poderosa como essa, logo no começo de um longa com mais de duas horas e meia de duração, poderia tornar tudo em seguida parecer menos grandioso, mas isso definitivamente não acontece: o musical é arrebatador.
O diretor Tom Hooper, vencedor do Oscar por O Discurso do Rei, sabe o que faz. Aliado à excelente direção de arte, que criou cenários vibrantes e caprichados, o filme, cuja fotografia também é impecável, dá uma nova vida ao clássico de Victor Hugo. A alternância de planos é muito usada, mas Hooper repete o uso de closes nos atores muitas vezes, permitindo um maior envolvimento com as emoções das personagens, todos muito bem construídos e interpretados.
Os atores, importante ressaltar, são de uma importância crucial. Os Miseráveis praticamente não tem diálogos – tem monólogos, e são todos cantados. O elenco mostra um talento incrível que, aliados à direção primorosa, ao roteiro bem amarrado e à trilha sonora, segura e emociona o espectador ao decorrer da jornada. Além de Hathaway, quem também se destaca é Hugh Jackman, no papel principal. Uma de suas músicas (Suddenly) está indicada ao Oscar de Melhor Canção e merece o prêmio – a cena também é excelente. Jackman também está indicado a Melhor Ator, enquanto Hathaway é a favorita para ganhar como Melhor Atriz Coadjuvante.
Dividida em duas partes, a história começa quando o personagem de Jackman é libertado da prisão, depois de cumprir pena de 19 anos por roubar um pão – e, na cadeia, ter tentado escapar. Anos depois, sua vida mudou, e ele tem a chance de ajudar Fantine e sua filha, que mais tarde será interpretada por Amanda Seyfried (12 Horas). A vida dos pobres na França é retratada sob a ótica – e a voz – deles. É a hora da revolução?
Completam o elenco Russell Crowe, Helena Bonham Carter e Sasha Baron Cohen, como os vilões da trama. Além deles, a bela Samantha Barks estreia no papel de Éponine e impressiona – uma de suas cenas musicais também está entre as mais emocionantes do filme.
Com oito indicações ao Oscar de 2013 e dois Globos de Ouro conquistados (Melhor Filme Comédia/Musical e Melhor Atriz Coadjuvante para Anne Hathaway, favorita ao Oscar), Os Miseráveis fez por merecer – poderia ser indicado até em mais categorias, como Melhor Diretor, por exemplo. São raros os filmes hoollywoodianos que conseguem envolver tanto o espectador, não com ação, mas explorando bastante os sentimentos dos personagens, por meio das músicas e dos seus closes. Algumas pessoas sairão das salas antes do final, porque, apesar de envolvente, está longe de ser uma obra fácil de ser digerida. Quem assiste à ela está desarmado diante de tantas cenas levemente tocantes e precisa estar disposto a permitir essa vulnerabilidade, essencial para sentir que, em suma, Os Miseráveis é arrasador.
Gabriel. lembra que eu te falei que esse filme não estava em minha lista de prioridades antes da Cerimônia do Oscar? Pois é. Eu já vi a montagem teatral que era maravilhosa, lia a obra, vi outras produções no cinema, então não estava animada. Isso sem contar a longa duração do filme que me causa certa ansiedade. Apenas tinha a curiosidade de ver os atores e atrizes cantando ao vivo sem play back. Novidade em musicasi no cinema, pois no teatro sempre foi assim. Mas, sua crítica me fez mudar de ideia. Adorei a início de seu texto, falando do inpicio do filme. Causa muita curosidade.Você foi de uma objetividade cirúrgica. texto enxuto e completo. Demais! Parabéns III. Bjs. Bruna.
Arrasou!