Compra-me um Revólver – Crítica
A distopia futurista clássica joga questões contemporâneas em cenários quase fantasiosos, nos levando a refletir sobre os riscos da manutenção de mazelas, exagerando-as em uma realidade muito distante. Algo completamente diferente acontece em Compra-me um Revólver. No novo longa de Julio Hernández Cordón, o futuro é muito próximo e a distopia, muito real, tornando-se necessário e perturbador.
O filme se passa em um México totalmente controlado pelos carteis de drogas e cuja população diminuiu drasticamente em razão do pequeno número de mulheres. Desinteressado em explicar como o país chegou a tal situação, a narrativa se foca em nos apresentar e acompanhar a menina Hulk, personagem central.
Como a própria protagonista nos diz nos primeiros segundos da obra, trata-se de uma história de sobrevivência. O regime brutal imposto pelos criminosos nos dá a sensação de que qualquer passo em falso, por menor que seja, possa ser pago com a vida. O perigo que eles representam é tão bem construído que a sua mera aparição já é o bastante para gerar enorme apreensão. Dessa forma há um clima de tensão que dá o tom e se prolonga durante praticamente todo o filme.
A pequena quantidade de mulheres também é fator que reforça o sentimento de opressão naquele ambiente, onde o sexo feminino é tratado como um ser precioso a ser caçado. Dessa forma, a jovem Hulk está constantemente exposta a um perigo enorme, que se dá pelo simples fato ser mulher. Enquanto seu pai, único protetor, é um homem cuja fragilidade e a dependência química acabam comprometendo sua maior missão: a guarda de sua filha.
Em alguns momentos podemos ter a sensação de que os protagonistas tomam atitudes irracionais, beirando a burrice, porém ao refletirmos sobre eles e a situação extrema em que estão submetidos, seus comportamentos se tornam críveis. O homem é vítima tanto da dependência química quanto da enorme pressão que é defender a sua filha; e a criança carrega o fardo da inocência, inconsciente do perigo e violência a sua volta.
A fotografia, principalmente nas cenas diurnas, desempenha um papel extremamente eficiente ao usar cores quentes, destacando a aridez daquele ambiente. Já o enorme realismo que caracteriza o filme fica por conta da sua trilha sonora, ou melhor, de sua quase ausência. A música que há no filme é em grande parte a música que toca no filme, ou seja, aquela que os próprios personagens estão escutando, o que gera um tom quase documental à obra.
Compra-me um Revólver tem como base a realidade do México, que também é muito próxima da nossa. O poder das grandes facções criminosas e a ascensão das milícias nos aproxima muito do longa-metragem e nos faz perguntar: quais novos caminhos teremos que trilhar para evitar chegarmos aonde não queremos.
Por Caio Ramos Simidzu
Confira o trailer de Compra-me um Revólver clicando aqui.
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