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O Bar Luva Dourada – Crítica

Desde os primórdios no Expressionismo Alemão, passando por clássicos como Psicose, até o surgimento dos slashers, o cinema sempre gostou dos serial killers. É inegável, porém, que em diversos momentos foi nos apresentado uma versão higienizada, às vezes até romantizada de tais criminosos, basta olharmos a sofisticação, inteligência e sagacidade de personagens como Hannibal Lecter para comprovarmos a recorrência de tal abordagem. Dessa forma, quando nos deparamos com uma obra que nos apresenta a brutalidade com absurda crueza, nem sempre estamos preparados.

Em O Bar Luva Dourada, o cineasta alemão Fatih Akin nos apresenta um breve período da vida de Fritz Honka, assassino em série responsável pela morte de pelo menos quatro mulheres na Alemanha da década de 1970. O diretor então concebe uma obra suja, despida de qualquer glamour e impregnada de uma violência retratada da maneira mais crua e brutal o possível.

O que torna o longa tão agressivo ao espectador, além das ferozes cenas de homicídio, é o retrato da exclusão social e da degradação humana. Enquanto o personagem de Christian Bale, em Psicopata Americano, desfila com ternos caríssimos em eventos das camadas sociais mais altas, Fritz Honka tem como cenário o repugnante Luva Dourada. O bar que dá nome ao filme é repleto de figuras grotescas, viciados, alcoólatras: pessoas que vivem na mais completa ausência de amor. Um ambiente tão opressor que faz com que os assassinatos acabem se tornando mais um elemento da tragédia social desumanizadora em que vivem aqueles seres humanos.

O clima de opressão, por sua vez, atinge o seu ápice na residência do protagonista, lugar imundo e claustrofóbico, onde as vítimas eram mortas e escondidas. Trabalho brilhante da direção de arte, que não dá um segundo de descanso ao espectador.

Porém, o trabalho que mais chama atenção no filme é o do ator Jonas Dassler. É claro que Fatih Akin tem absurdo talento na direção, acertando ao não mostrar os assassinatos diretamente e ciente de que tememos mais aquilo que não vemos. Porém, Dassler, debaixo de uma maquiagem que o deixou mais feio do que o Honka original, consegue chegar com naturalidade ao comportamento grotesco de seu personagem, oscilando entre o monstro assustador e o esquisito patético.

O Bar Luva Dourada é um filme para poucos, excessivamente agressivo, daqueles que grudam na mente e custam a sair. Porém aqueles mais resistentes e acostumados ao cinema extremo, devem sim se arriscar na última obra de Fatih Akin, que é muito além de um filme de terror ou uma biografia de um serial killer, mas um retrato brutal sobre a exclusão social e a degradação humana.

Por Caio Ramos Shimizu

Confira o trailer de O Bar da Luva Dourada clicando aqui.

Confira vídeo com a caracterização do ator clicando aqui.

Nota: