Pole Dance: Dança do Poder
Documentário da Netflix, Pole Dance: Dança do Poder mostra que combater o medo do julgamento alheio é a chave para a verdadeira libertação pessoal
De todas as modalidades de dança, o pole dance é, certamente, uma das mais estigmatizadas, por ser associada aos clubes de strip-tease. Essa característica, entretanto, torna o pole dance uma ferramenta ainda mais poderosa para romper paradigmas e enfrentar o machismo, tanto dos outros, quanto o introjetado em si mesmo. Isso é o que mostra o documentário Pole Dance: Dança do Poder, na Netflix.
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Como um homem nerd, inibido e pouco atlético, eu procurei pole dance em 2016, pois desejava fazer algo que me ajudasse a quebrar a timidez, escolhendo justamente o que me parecia a opção mais ousada e inusitada para tal propósito. Afinal, pole dance é uma dança feminina e, certamente, teria que enfrentar, além dos desafios da barra vertical (não é o esporte mais fácil do mundo, convenhamos), preconceitos de diversos tamanhos, olhares tortos, risadinhas e julgamentos. Assistir ao documentário da Netflix, então, é uma experiência que remete à minha própria trajetória, embora os poucos homens que fazem pole dance no mundo (esse crítico não é o único!) não sejam o foco aqui. Afinal, é um filme sobre superação e, principalmente, sobre transformação.
Pole Dance: Dança do Poder mescla depoimentos de profissionais da dança com o acompanhamento de uma experiência com mulheres iniciantes da prática, desde a primeira aula. O foco é na vivência dessas mulheres em descobrir o pole como uma ferramenta empoderadora e libertadora.
Ao enfrentar os seus traumas (muitas revelam terem sido estupradas, entre outros abusos), suas relações negativas e tóxicas com o próprio corpo, suas inseguranças e resquícios de relacionamentos e violências do passado, essas mulheres descobrem que todo o corpo pode dançar, que todo o corpo pode ser amado, e despertam força, sensualidade, resiliência, que muitas nem imaginavam que tinham.
Pole Dance: Dança do Poder é um belo documentário para entender o quanto a dança, e o pole dance especificamente, podem ser ferramentas transformadoras na vida de uma pessoa. Eu já sabia, por experiência própria, do potencial dessa arte, desse esporte, e considero uma das decisões mais ousadas e acertadas da minha vida, um verdadeiro turning point. A constante quebra de paradigma, alinhada à sensação de superação a cada novo movimento ou figura alcançados, é a chave para explicar como o pole dance pode ser tão importante para autoestima, e foi interessante ver como isso é transformador em perspectivas diferentes da que eu mesmo vivenciei, ao ver histórias de superação acontecendo diante dos próprios olhos, à medida que o documentário não se limita a colher depoimentos do “antes e depois”, mas acompanha o processo doloroso e gratificante de transformação pessoal das personagens.
A cegueira e o preconceito de muitas pessoas podem começar a ser um pouco abalados com esse filme, que sensibiliza o público não só para a potência transformadora do pole dance, mas também para o machismo estrutural, a violência contra a mulher, a marginalização das trabalhadoras do sexo, e a relação de nós mesmos com os nossos corpos e com as nossas supostas limitações.
E fica a reflexão: afinal, por quê você não poderia colocar um biquini ou uma sunga e dançar na barra? Por que é tão importante “o que as pessoas vão pensar”? Pole Dance: Dança do Poder mostra que combater o medo do julgamento alheio é a chave para a verdadeira libertação pessoal.
Por Gabriel Fabri
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