A Mulher na Janela: quando ser fiel ao livro não funciona
Com Amy Adams, Gary Oldman e Julianne Moore, suspense A Mulher na Janela chega à Netflix
A aguardada adaptação de A Mulher na Janela, romance de A. J. Finn, para os cinemas finalmente estreou, após acordo entre a Disney (o filme originalmente foi produzido pela Fox) e a Netflix. O longa-metragem tinha tudo para ser um estouro: Amy Adams, seis vezes indicada ao Oscar, sob a direção de Joe Wright (O Destino de Uma Nação), que já emplacou filmes importantes anteriormente, como Desejo e Reparação. Gary Oldman e Julianne Moore completam o elenco classe A de Hollywood.
A trama remete a Janela Indiscreta e a Um Corpo Que Cai, clássicos de Alfred Hitchcock. Assim como o protagonista do primeiro, Anna Fox (Amy Adams) observa os seus vizinhos pela janela – ao invés da perna quebrada, entretanto, ela não sai de casa por conta de um trauma que desencadeou uma agorafobia, quando a pessoa tem medo de sair em lugares públicos. Ela também observa um crime pela janela, mas, em seu caso, ninguém acredita nela. Seus psicotrópicos, que, é claro, ela toma com álcool, são pesados e podem causar alucinações.
A Mulher na Janela, o filme, chega sem as expectativas que merecia após a notícia de que as sessões testes para o público foram ruins e obrigaram o terceiro ato do filme a ser reescrito e refilmado. Tanto sessões testes quanto refilmagens são mais comuns em Hollywood do que se pensa, e não necessariamente significam que o filme estava ruim antes – apenas que não agradou.
Entretanto, A Mulher na Janela é o exemplo clássico de quando um filme erra por ser fiel demais ao livro. Há poucas mudanças em relação à obra de A. J. Finn no desenrolar da história. O roteirista Tracy Letts pegou todos os detalhezinhos que eram necessários para a trama engrenar e o filme flui bem nessa construção. Mas a reviravolta final simplesmente não funciona nas telas, porque faltou um elemento essencial para ela ser impactante: tempo.
O roteiro parece milimétricamente cronometrado para encaixar todas as peças do quebra-cabeça, mas lhe escapa o mais legal do livro, que era estar dentro da cabeça da personagem principal. A narração em primeira pessoa da obra original ajuda na leitura, mas dificulta a sua transição para o cinema. No filme, passa-se pouco tempo na cabeça da personagem, nesse vai e vem de pessoas entrando e saindo de sua casa.
Ao contrário do oscarizado Meu Pai, em que conseguimos embarcar na mente do personagem e sentir um pouco de sua loucura, o roteiro de A Mulher na Janela não dá muita chance para o público duvidar da sua protagonista. Por conta disso, as reviravoltas e descobertas perdem a força. Elas não são em si grandiosas e só funcionam no livro porque o autor é ágil na condução da narração. A Mulher na Janela, então, precisava envolver mais o público com a sua protagonista, explorando subplots, explorando mais os personagens de Gary Oldman e Julianne Moore, entre outros coadjuvantes, e criando pistas falsas para desviar a atenção do que realmente aconteceu do outro lado da rua. Falta ousadia para desprender-se do livro.
Por Gabriel Fabri (@_gabrielfabri)
Jornalista, especializou-se em Cinema, Vídeo e TV pelo Centro Universitário Belas Artes. Colaborou com Revista Preview, Revista Fórum e Em Cartaz. É autor de Fora do Comum – Os Melhores Filmes Estranhos.
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