O Diabo e o Padre Amorth – Crítica
Diretor de O Exorcista, o norte-americano William Friedkin sabe que será lembrado por esse filme que é, definitivamente, o maior sucesso de sua carreira como cineasta, que inclui outros clássicos como Operação França e Parceiros da Noite. Eis que quarenta anos depois do lançamento do filme estrelado por Linda Blair, Friedkin resolve retornar ao tema da obra no documentário O Diabo e o Padre Amorth, para o qual o cineasta teve a autorização, segundo ele inédita, de filmar um exorcismo real.
O ponto alto do documentário é que ele desmistifica um pouco do mito que o próprio Friedkin criou a respeito de possessões demoníacas. Com o registro de um sessão real de exorcismo, não há vômito verde, luzes piscando ou cabeças girando. Apenas uma mulher se contorcendo e gritando em uma cadeira. A relevância de exibir isso em uma sequência tão longa é discutível. Entretanto, pelo menos agora se há um registro de um exorcismo supostamente real. Supostamente, pois o próprio documentário discute se a personagem estava de fato possuída.
Apesar de ter um registro real, o que por si só já traz uma importância para o documentário, Friedkin derrapa e entrega uma obra um tanto quanto irrelevante. De posse da informação de que a Itália registra uma média de 500 mil pessoas por ano que procuram um exorcista, o que o diretor fez com esse dado? Nada. Ao invés de explorar o tema culturalmente, buscando entender mais sobre a cultura do exorcismo, suas simbologias, ou porque essa ideia é tão forte no país vizinho ao Vaticano, o diretor opta por mostrar a casa onde foi filmado O Exorcista, por exemplo. Depois, após exibir o exorcismo de Cristina, o nono ao qual ela foi submetida, ele resolve discutir “foi ou não foi exorcismo” chamando padres e cientistas – e entra na velha discussão do que é loucura ou possessão, sem trazer algo de novo para tal. Por fim, tendo como personagem principal o Padre Amorth, que alega ter realizado cerca de 70 mil exorcismos, o diretor poderia, por exemplo, ter colocado o sacerdote, falecido em 2016, para contar algumas outras histórias interessantes.
Se Friedkin foi de fato infeliz ao preparar o conteúdo de seu documentário, ele ainda teve a infelicidade de marcar um encontro com Cristina e não ter registrado em vídeo. Supostamente, teria sido a melhor cena do filme. Ele então opta por narrar o encontro e colocar filmagens estilizadas do local onde ocorreu para dar um clima de horror ao momento. Ficou cafona e difícil de acreditar na veracidade do relato.
Por Gabriel Fabri
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