Era uma Vez um Sonho
Da Netflix, Era Uma Vez Um Sonho coloca Amy Adams e Glenn Close na corrida para o Oscar
Parte da estratégia adotada pelas redes de streaming para atrair público e assinantes é a inserção de seus longa-metragens em badaladas premiações, sendo o Oscar. A Netflix, por exemplo, chegou a colocar duas obras – O Irlandês (2019) e História de um Casamento (2019) – na categoria de Melhor Filme na última cerimônia. Para o próximo ano uma aposta já está clara: Mank (2020), o novo longa de David Fincher estará no páreo. Porém uma outra obra, dirigida por Ron Howard e estrelada por Amy Adams e Glenn Close, Era uma Vez um Sonho, também entrará, de maneira auxiliar, nas premiações. Será que aguenta o tranco?
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O filme é baseado em um livro autobiográfico – Hillbilly Elegy – escrito por J.D Vance, onde o autor narra a sua trajetória de superação, de uma infância difícil no interior dos Estados Unidos até uma vida adulta bem sucedida. O cenário é aquele que a grande indústria cinematográfica não costuma dar muita atenção: o universo dos brancos pobres estadunidenses.
Na obra conhecemos o protagonista, um estudante de direito em uma importante universidade que luta em busca de um bom estágio. Até que um dia ele tem que voltar para a terra natal após a mãe ser hospitalizada, vítima de uma overdose de heroína. À medida que vemos ele tentando se reconciliar com aquele lugar e, principalmente, com a mãe, acompanhamos, em flashback, sua infância traumática. Um dos acertos da obra é um certo paralelismo, pois, à medida em que vemos sua reconciliação com as raízes, conhecemos em seu passado os caminhos que ele teve que trilhar para superar todos os empecilhos, dessa forma, a atmosfera ascendente de superação se dá em ambas as narrativas.
Porém, o motor que fará a obra se destacar em meio às premiações é, sem dúvida alguma, as atuações excepcionais, dignas de Oscar, de Amy Adams – mãe de Vance – de Glenn Close – avó de Vance. Ambas desaparecem nas sofridas caipiras estadunidenses que interpretam, entregando resultados extremamente convincentes onde poderiam ser apenas uma caricatura.
Infelizmente tais qualidades pontuais acabam não sustentando a obra como um todo. Em suma, a biografia é um grande filme de autoajuda, que tem no perdão e na superação por meio do trabalho seus alicerces. O perdão está na jornada de reaproximação à mãe. Já a superação por meio do trabalho está no caminho que ele trilha do interior pobre à universidade e também na resolução do impasse entre ficar e cuidar da mãe ou ir a uma entrevista de estágio: ele percebe que tendo um emprego será mais fácil ajudar na recuperação da mãe.
Ora, mas essas questões são, por si só, um problema? É claro que não!
O problema é que Era uma Vez um Sonho se apega tanto naqueles dois alicerces que acaba negligenciando outros elementos da linguagem cinematográfica, tornando um filme sem graça. Uma história tão simples e convencional precisaria de muito mais esforço e criatividade, que se somem as narrativas bem executadas e duas excelentes atrizes para se sustentar. Certamente uma montagem mais ousada ou uma direção mais caprichada… Até mesmo a trilha, assinada pelo mestre Hans Zimmer, é discreta e quase irrelevante na hora de conduzir as emoções dos espectadores.
“Ain, mas então eu devo ignorar esse filme”. Não sei… Porém, se você gosta das grandes premiações e gosta de fazer a lição de casa, é provável que ele esteja lá. Além disso, será interessante ver como a indústria de cinema, que vem se centrado sua atenção nas populações de Nova Iorque e da Califórnia, irá lidar com essa obra que fala diretamente com aquele cidadão pobre dos interiores dos Estados Unidos, onde o progressismo hollywoodiano tem passado bem longe.
Por Caio Shimidzu
Leia o livro que inspirou o filme abaixo:
Assista ao trailer de Era Uma Vez Um Sonho abaixo:
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